sábado, 12 de dezembro de 2020

12 de Dezembro 2020 Rio de Onor

 

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Segunda etapa em Montesinho. O ponto nevrálgico escolhido foi a aldeia de Rio de Onor, em Bragança. Mais uma bela e fria madrugada para andar de bike. Perspetivava-se um bom dia para curtir a natureza.

Rocha, PedroS e Miguel foram recebidos na chegada à aldeia por um canídeo muito festivo, sedento de mimos e brincadeira, que nos foi apresentando a aldeia como um verdadeiro cicerone.

A aldeia já está a precisar de uma intervenção urbanística, com muitos edifícios degradados, contudo um bom sitio a visitar, mais a sua envolvência.

 Começávamos a calcar os primeiros metros de terra em subida, um aquecimento violento para os meus músculos ainda a acordar, com a temperatura sentida poucos graus acima do 0, o Rio de Onor ainda ajudava o termómetro a descer.

1,5km a subir e a civilização deixava de existir, para dar azo à natureza no seu expoente singular, nada de vestígios civilizacionais. A demonstrar isto, dois veados confundidos inicialmente com cavalos, trotavam à nossa frente. Nós incrédulos, com os poucos km feitos em cima da bike já víamos a natureza rebentar.


5km feitos, já estávamos armados em castores, encontrar madeira/pedras e fazer uma ponte/barragem para fazermos uma travessia do ribeiro. Não estava fácil, o Rocha ficava numa ponta a segurar o tronco para dar equilíbrio, os outros, em cima de tufos de vegetação que se seguravam em pedras, tentavam levar as bikes para o outro lado da margem. O Rocha ia-se divertindo a empurrar o tronco ao longo da margem, deixando-nos pendurados com o rabo e costas quase encostados à água, tipo limbo.

Após a travessia uma parede a transpor, os km estavam muitos lentos e com ajudas destas… o dia ia ser longo.

Após a subida da parede, mais três veados, estávamos deliciados com a elevada quantidade de encontros com este tipo de animais.

Esticamos uns metros e fomos ver a fronteira e as vistas, continuávamos a falar português .

Na descida avistava mais uns quantos veados a correr entre pinheiros na mesma direção que o track nos levava. Nem 10km, e já precisava dos dedos dos pés para contar veados.

Entrávamos num trilho mais fechado, com pouco uso, devia ser um habitat de perdizes. Com a nossa aproximação um bando delas levantava, ou melhor, eram tiros ensurdecedores como o barulho dos rotores de um helicóptero a passarem à nossa volta. Ao admirarmos o voo delas voltamos a ver mais uns veados que se precipitavam vale abaixo. Estes deram para apreciar alguns minutos. Ficavam no fundo do vale a olhar para cima, para depois voltar a subir a outra encosta. Que dia, só víamos montanha e animais, que geralmente avistamos um, nem quando o rei faz anos. À frente, mesmo a 30m de distância, outra manada subia o vale na nossa encosta. O Rocha dizia que já sentia falta de ver um cão, tal a quantidade de veados que encontramos em 10km.

                                   

 Voltávamos a encontrar outra travessia de um ribeiro, este com uma corrente com mais poder, andamos a pesquisar onde podíamos fazer a travessia, e usar os nossos conhecimentos transmitidos pelos castores, mas com escarpas do outro lado e vegetação serrada optamos por ir… o Rocha tentou ir de bike, mas encharcou até aos joelhos, o Miguel tb tentou uns metros, desistiu e fez como o PedroS, tirar as botas arregaçar o mais possível as calças e esperar que corra bem. No fim da travessia espremer as calças, secar bem os pés.

Aproveitávamos para comer um pouco de energia, estava um calorzinho bom e a temperatura da água não estava demasiado fria. Mas tínhamos de dar aos cranques que o relógio nesta altura do ano anda muito rápido.

Casas dos guardas florestais, quando andamos com o Miguel, elas têm de ser caçadas, e fomos apanhando algumas.

Também apanhámos algumas travessias, íamos para a terceira, mas esta corrente era demasiado forte para pôr os pés ou as bikes. Voltávamos a vestir a pele de castor e procurávamos uma alternativa para atravessar. O leito do rio era largo, e em algumas zonas com corrente forte. Depois de diversas tentativas pela escolha de um sacrificado, optamos por arrastar um tronco de 8m, levantá-lo e tentar que ele chegasse ao outro lado da margem sem se afundar. Só faltava equilibrar em cima do tronco com a bike às costas e tentar não cair à água, se isso acontecesse, só parávamos na próxima barragem, tal a força da corrente.


Tentativa bem sucedida, mas as bikes elétricas são pesadas como umas burras F”#$%&.

O percurso era basicamente em estradões, corta fogos (estes com inclinações do c”#$%&) mas estava a valer pela quantidade de animais avistados e pela paisagem (estou a repetir-me?), essa que contemplas, admiras, e te faz apaixonar e te vicia, “é disto que o meu povo gosta irmão”.

Algumas zonas do percurso tb passavam com vegetação mais fechada e em floresta mais densa, aí apanhamos o susto do dia, um veado macho atravessa o trilho a correr, uns 10m à frente da bike. Agora já só olhávamos para os lados, ninguém queria ir à frente nem pendurado nas hastes de um veado monte baixo. Estes deixavam um cheiro a rasto de bicho durante uns bons metros.

Voltava a aparecer um rio no caminho, já ligávamos o periscópio e os dentes de castor já reluziam. Para nosso espanto tinha uma ponte, o que nos deixou tristes. Tivemos quase a não passar por cima dela e fazer a travessia do Rio de Onor by the books, já que com o know how do dia para nós ia ser “pinets”


40km depois de sairmos de Rio de Onor encontrávamos outra povoação, Aldeia de Guadramil, uma visita, e mais um “recuerdo” de uma casa do guarda florestal. Ao sair da aldeia uma raposa atravessa a estrada, “prontos”, as preces do Rocha por um canídeo foram atendidas.

Os km estavam mais rápidos, ou o relógio estava com pressa. Já íamos contabilizando quantas horas do dia ainda tínhamos, (mais uns veados atravessavam o corta fogo) 5 km a subir mesmo no limite entre Portugal e Espanha, a contar mecos, claro que alguns 4km foram ao engano, mas queríamos ver as vistas e ir ao topo, àquele topozinho encostado lá em cima onde poucos lá chegaram, e depois… depois voltamos para trás e continuamos no track… que bom… é só pedalar e a bike vai, se não for assim levas a bike às costas.

Depois de ver as vistas, e ver outra vez as vistas, e sentir o frio e entrar nos ossos, pedalar o mais rápido para voltar aquecer, e tentar não levar com muito orvalho noturno no corpo.

Chegávamos a Rio de Onor já a iluminação da vila nos dava as boas noites, mudamos rapidamente de roupa e fomos levantar o nosso reforço a um restaurante, nesta altura take away. Uma sopa bem quente, um prego e uma alheira, este menu foi comido num parque infantil de noite, em cima de mesas e bancos de granito, ainda tenho o CU gelado. A sopa, a primeira colher ainda estava quente, a terceira já doía os dentes de tão fria, um belo convívio ao relento…

Mas que belo passeio…


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