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Segunda etapa em Montesinho. O ponto nevrálgico escolhido foi a aldeia de Rio de Onor, em Bragança. Mais uma bela e fria madrugada para andar de bike. Perspetivava-se um bom dia para curtir a natureza.
Rocha, PedroS e Miguel foram recebidos na chegada à aldeia
por um canídeo muito festivo, sedento de mimos e brincadeira, que nos foi
apresentando a aldeia como um verdadeiro cicerone.
A aldeia já está a precisar de uma intervenção urbanística,
com muitos edifícios degradados, contudo um bom sitio a visitar, mais a sua
envolvência.
Começávamos a calcar os primeiros metros de terra em subida, um aquecimento violento para os meus músculos ainda a acordar, com a temperatura sentida poucos graus acima do 0, o Rio de Onor ainda ajudava o termómetro a descer.
1,5km a subir e a civilização deixava de existir, para dar
azo à natureza no seu expoente singular, nada de vestígios civilizacionais. A
demonstrar isto, dois veados confundidos inicialmente com cavalos, trotavam à
nossa frente. Nós incrédulos, com os poucos km feitos em cima da bike já víamos
a natureza rebentar.
Após a travessia uma parede a transpor, os km estavam muitos
lentos e com ajudas destas… o dia ia ser longo.
Após a subida da parede, mais três veados, estávamos
deliciados com a elevada quantidade de encontros com este tipo de animais.
Esticamos uns metros e fomos ver a fronteira e as vistas,
continuávamos a falar português .
Na descida avistava mais uns quantos veados a correr entre
pinheiros na mesma direção que o track nos levava. Nem 10km, e já precisava dos
dedos dos pés para contar veados.
Entrávamos num trilho mais fechado, com pouco uso, devia ser
um habitat de perdizes. Com a nossa aproximação um bando delas levantava, ou
melhor, eram tiros ensurdecedores como o barulho dos rotores de um helicóptero
a passarem à nossa volta. Ao admirarmos o voo delas voltamos a ver mais uns
veados que se precipitavam vale abaixo. Estes deram para apreciar alguns
minutos. Ficavam no fundo do vale a olhar para cima, para depois voltar a subir
a outra encosta. Que dia, só víamos montanha e animais, que geralmente
avistamos um, nem quando o rei faz anos. À frente, mesmo a 30m de distância,
outra manada subia o vale na nossa encosta. O Rocha dizia que já sentia falta
de ver um cão, tal a quantidade de veados que encontramos em 10km.
Voltávamos a encontrar outra travessia de um ribeiro, este com uma corrente com mais poder, andamos a pesquisar onde podíamos fazer a travessia, e usar os nossos conhecimentos transmitidos pelos castores, mas com escarpas do outro lado e vegetação serrada optamos por ir… o Rocha tentou ir de bike, mas encharcou até aos joelhos, o Miguel tb tentou uns metros, desistiu e fez como o PedroS, tirar as botas arregaçar o mais possível as calças e esperar que corra bem. No fim da travessia espremer as calças, secar bem os pés.
Aproveitávamos para comer um pouco de energia, estava um calorzinho bom e a temperatura da água não estava demasiado fria. Mas tínhamos de dar aos cranques que o relógio nesta altura do ano anda muito rápido.
Casas dos guardas florestais, quando andamos com o Miguel,
elas têm de ser caçadas, e fomos apanhando algumas.
Também apanhámos algumas travessias, íamos para a terceira,
mas esta corrente era demasiado forte para pôr os pés ou as bikes. Voltávamos a
vestir a pele de castor e procurávamos uma alternativa para atravessar. O leito
do rio era largo, e em algumas zonas com corrente forte. Depois de diversas
tentativas pela escolha de um sacrificado, optamos por arrastar um tronco de
8m, levantá-lo e tentar que ele chegasse ao outro lado da margem sem se afundar.
Só faltava equilibrar em cima do tronco com a bike às costas e tentar não cair
à água, se isso acontecesse, só parávamos na próxima barragem, tal a força da
corrente.
Tentativa bem sucedida, mas as bikes elétricas são pesadas como umas burras F”#$%&.
O percurso era basicamente em estradões, corta fogos (estes
com inclinações do c”#$%&) mas estava a valer pela quantidade de animais
avistados e pela paisagem (estou a repetir-me?), essa que contemplas, admiras,
e te faz apaixonar e te vicia, “é disto que o meu povo gosta irmão”.
Algumas zonas do percurso tb passavam com vegetação mais
fechada e em floresta mais densa, aí apanhamos o susto do dia, um veado macho
atravessa o trilho a correr, uns 10m à frente da bike. Agora já só olhávamos
para os lados, ninguém queria ir à frente nem pendurado nas hastes de um veado
monte baixo. Estes deixavam um cheiro a rasto de bicho durante uns bons metros.
Voltava a aparecer um rio no caminho, já ligávamos o
periscópio e os dentes de castor já reluziam. Para nosso espanto tinha uma
ponte, o que nos deixou tristes. Tivemos quase a não passar por cima dela e
fazer a travessia do Rio de Onor by the books, já que com o know how do dia
para nós ia ser “pinets”
Os km estavam mais rápidos, ou o relógio estava com pressa. Já íamos contabilizando quantas horas do dia ainda tínhamos, (mais uns veados atravessavam o corta fogo) 5 km a subir mesmo no limite entre Portugal e Espanha, a contar mecos, claro que alguns 4km foram ao engano, mas queríamos ver as vistas e ir ao topo, àquele topozinho encostado lá em cima onde poucos lá chegaram, e depois… depois voltamos para trás e continuamos no track… que bom… é só pedalar e a bike vai, se não for assim levas a bike às costas.
Depois de ver as vistas, e ver outra vez as vistas, e sentir
o frio e entrar nos ossos, pedalar o mais rápido para voltar aquecer, e tentar
não levar com muito orvalho noturno no corpo.
Chegávamos a Rio de Onor já a iluminação da vila nos dava as
boas noites, mudamos rapidamente de roupa e fomos levantar o nosso reforço a um
restaurante, nesta altura take away. Uma sopa bem quente, um prego e uma
alheira, este menu foi comido num parque infantil de noite, em cima de mesas e
bancos de granito, ainda tenho o CU gelado. A sopa, a primeira colher ainda
estava quente, a terceira já doía os dentes de tão fria, um belo convívio ao
relento…
Mas que belo passeio…
Os Kedas visitam a aldeia natal do meu pai!
ResponderEliminarFantástico! Um abraço para todos!
Abraço Carlos.
ResponderEliminarBelo berço do teu pai