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Tem sido um ano assim pró esquisito, onde quase não vês
ninguém que costumas encontrar a derreter transmissões.
Saía eu do trabalho quando tropecei no Miguel Martins no
passeio, uma conversa sobre trilhos para Trás-os-Montes deu o mote para nos
juntar. Arranjamos o dia para matar saudades destas viagens de prazer de btt
aliado ao turismo e conhecimento.
O trilho escolhido foi pela vertente Histórica dos Três
Reinos, mas o gps ia carregado com quatro tracks, íamos seguir o road-book que
o Miguel idealizou. Era entrar num track e sair, cortar e coser, juntar outro e
olhar para o relógio e pernas para ver por qual track iríamos seguir.
Estavamos só os dois na calha para o passeio, mas hoje em
dia há muita gente a tropeçar, o Luís Martins tropeçou no Miguel e o Rocha
tropeçou em mim. Dobramos a capacidade.
O dia estava mesmo a acordar, o sol ainda estava debaixo dos
cobertores, estava quentinho e não se queria levantar, deixando-nos com o pingo
no nariz. Que frioooo, máxima de 11ºc.
O Luís, precavido (como anda nisto há muitos anos) trás o
bidon vazio, sem uma única gota de água, andamos à procura de fontes secas, e
fontes secas, deviam estar congeladas. De nenhuma saia uma gota de água, ele
estava com sorte e ao sair da vila encontrou uma com água.
Nem dois km feitos já começávamos a enterrar a bike até meio
das rodas na lama. Começava bem, molhar os pés era praticamente fatal. Com
alguma ginástica lá conseguimos safar-nos com pouca água/lama nas botas.
Estava um belo e frio dia de outono, esta altura do ano tb
sabe bem fugir para estas zonas para ver esta estação na sua imponência máxima.
Os km ainda não tinha dois dígitos e o Miguel já tinha uma
avaria de arregalar bem os olhos. O cranque desengatou do centro pedaleiro,
ficou a pedalar só com um. Tentamos arranjar e uns km à frente voltava a sair.
O Rocha lá apertou com os Newton suficientes, de 4,6 de força Newton.
Aguentou mais tempo e mais km..
A nossa visita histórica ficava nos primeiros km do percurso, o Penedo dos Três Reinos
Entravamos em
Moimenta para fazer um trilho pedestre em calçada de 8/9km. Decidimos fazer a
descida pela calçada, a subida seria uma grande parte à mão. Mesmo assim, o Luís
fez jus ao nosso grupo e Keda. Calçada molhada e pintada de verde a descer, a
probabilidade de keda é grande. O Miguel voltava a ter problemas na bike, a
trepidação soltava a válvula. Estava em dia sim. Entravamos na zona da descida
sem água com um fenomenal tapete de outono a cobrir a calçada dando mais
aderencia à bike (achava eu) escondendo alguns buracos mais traiçoeiros
provocando alguns calafrios.
Viemos desaguar à bela ponte medieval do Couço sobre o rio
Tuela. O Luís trazia mais uma medalha keda. Paramos para desfrutar das vistas e contemplar. Os tons castanho, laranja, verde e penedo que nos circundavam,
aliados ao cantar do rio deixava-nos pregados o olhar em cada cor. Com pena
deixava este belo canto medieval já com saudades, para começar aquecer as
pernas numa subida/escalada sempre com o ritmo cardíaco a sair pela boca nem era
necessário olhar para o gps para ver que estava sempre no limite ou acima, mas
sempre a tentar subir em cima da bike, não era fácil. Mas tb não seria fácil
subir a calçada molhada em cima da bike. Acho que fizemos a melhor escolha.
Deu um certo prazer subir este trilho que espero um dia o descer 😁. Cheguei ao miradouro todo rotinho, não era o único, até o Rocha dava mostra que não veio confortável na sua E-bike
A descida até Moimenta foi um género de corta mato, cada um
escolhia o trilho que mais lhe interessava tal a incapacidade de encontrar um
trilho marcado no chão. O Luís encontrava mais uma medalha keda. Já pode vir
para o nosso grupo, tem todas as aptidões para vir para os KEDASbike.
Antes de fazermos este trilho pedonal, tínhamos encomendado um belo repasto no tasco do Sr Amadeu. Quando chegamos tinha tudo pronto, serviu-nos o vinagre sem as batatas e sem o azeite, perguntamos pelo vinho ele disse que já estava na mesa… dasse com c”#$% que vinho fraco… trocamos de galheteiro e o presunto, chourição, pão e as azeitonas já sabiam melhor.
Um engano para a pancada que seria a subida ao alto da Serra
da Coroa, já lá tinha estado no NGPS de Vinhais todo mamadinho.
A subida gradual deixava outra vez o Miguel pendurado com um
só cranque, o Rocha aumentava a força Newton para 7,2 durou o resto do passeio.
No alto o frio vinha em forma de facas, protegíamo-nos
encostados ao marco geodésico, e carregávamos o estômago de energia.
A descida em estradão aumentava rapidamente os km e o frio,
já me arrependia de ter deixado o impermeável mais resistente no carro.
Uns sinais de lembrança voltavam ao NGPS de Vinhais, já
tinha estado nesta fronteira que nos voltava a levar bem perto do Penedo dos
Três Reinos
Voltávamos a embrenhar pelos bosques de soutos, com muito outono pelo chão, folhas, pequenos ramos, ouriços e poucas castanhas eram calcados pelas nossas rodas dando voz ao outono, com o verde a puxar pelos castanhos. Zona muito bonita…
O Sol começava a ficar cansado, estávamos com uma hora e
pouco de luz solar. Estávamos em Chaguazoso tínhamos duas opções, continuar no
trilho +22km ou cortar para o carro +6k. Decidimos continuar com o Luís a
queixar-se de uma dor na anca, mas que dava para continuar.
Uns 2km à frente problemas para a bike do Rocha, desviador
desintegrou-se, o melhor as roldanas do desviador desapareceram. Teve de voltar
para Chaguazoso e dali para o carro com
a companhia do Luís.
Miguel e PedroS continuaram no percurso e os km estavam a
render. Pelo meio de pinhal com algumas zonas rápidas, outras de trilho com
pouco uso onde o sol nesta altura do ano nem toca no chão, o frio já ia
anestesiando os meus joelhos. Atravessar um ribeiro/rio com uma ponte
semidesfeita ajudava a dar um salto nos minutos perdidos com a subida de um
corta-fogo a tirar o ar.
O sol já tinha caído quando chegamos ao topo, a lua e as
estrelas já estavam a observa-nos, com as pupilas dilatadas para vermos melhor
e com o sonar ligado carregávamos freneticamente nos cranques para acabar o
mais rápido possível. Não sabia quantos km faltavam e já não se via nada. O
Miguel levava luzes dianteiras o que ajudou nos últimos km.
Foi um dia em que pedalamos antes de ver o sol em pé e só
paramos quando demos as boas noites à lua e às estrelas.
No percurso o Rocha viu um veado e PedroS um corço e
diversas aves de rapina.
Foi um passeio muito bonito (a altura do ano foi bem
escolhida) com trilhos de todo tipo.
No fim um bom jantar e uma visita a adega Encostas de Sonim
para um dia em cheio.
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