sábado, 23 de outubro de 2021

23,24 e 25 de Outubro 2021 GR36

 

clica na foto para aceder à galeria

1º dia - Paradela, Miranda do Douro – Lagoaça, Freixo de Espada à Cinta

Andamos a farejar a zona do Alto Douro. Depois de BarcaD´Alva o Miguel Martins lançou o mote para fazermos a GR36, desta vez passaríamos pelo miradouro do Penedo do Durão de bike e não de carro. Iam ser três dias em autonomia (já começava a doer), o formigueiro e a ansiedade começaram quando a data ficou marcada no nosso calendário da bike.             

Rocha, Pedro Faria, PedroS e Miguel Martins juntavam-se à volta de umas cervejas para pormenorizar os três dias, dormidas, jantares, lavagem de equipamento, tracks etc & tal. Ao pesquisar na net “GR36” caímos num rescaldo/crónica no fórumbtt realizada por uns colegas de Lousada, Sampaio e Gaspar, que os costumamos encontrar nos NGPSs, aí começamos a ter noção do que nos esperava.

Os dois primeiros dias iam ser destinados à grande rota GR36, e aos seus miradouros, o terceiro era destinado do final da GR36 até onde tínhamos deixado o carro.

Um colega das bikes do Miguel, de Mogadouro, tratou de dar uma ajuda no terceiro dia para saber como se encontravam os trilhos e se estes estavam cicláveis por onde pretendíamos pedalar.

A logística do que íamos carregar às costas estava a ser complicada, como era em autonomia, levar roupa para o fim do banho, calçado, higiene pessoal e alimentação para os três dias… era de balança a pesar a roupa, e tudo mais. O mais leve é que entrava na mochila, as gramas às costas fazem toda a diferença. No dia antes de arrancar, as mochilas andavam entre os 6.2kg e os 9kg.


Dia 23 às 5.30h apontávamos os carros para Paradela, Miranda do Douro, 3h de viagem e chegávamos ao local onde deixávamos os carros no centro da aldeia. Montávamos o puzzle que trazíamos dentro dos carros e transformamos as peças em quatro bikes e quatro bigs mochilas.

Deixávamos os carros e percorríamos os primeiros km a atualizar o corpo ao peso da mochila, era um peso que ia fazer parte do nosso corpo durante muitas horas do dia (quase todas) e algumas de noite.

A GR36 começava onde o Rio Douro entrava em Portugal. Do carro até ao inico da GR36 eram mais uns 2km a descer, vá lá… depois era a subir… e daí?...

Lá no alto começamos a fazer zoom ao ambiente que nos rodeava, e aí começávamos a ver o desfiladeiro por onde o Douro serpenteava ao longe. Largamos os travões e aumentamos o zoom até ao primeiro miradouro da Penha das Torres.

A chegada foi como atravessar a barreira do som, de repente ficou tudo em silencio a ver a maravilhosa paisagem que os olhos sugavam. A sensação era sentir-me a mingar ao ponto de um grão de areia ao ver a imensidão das arribas. 9km depois voltávamos a outra varanda do Douro, o Miradouro de São João das Arribas e a sensação ainda era mais imponente com os abutres a usufruírem de um habitat magnifico, acentuando ainda mais o prazer de ali estar.

Miranda do Douro, uma visita rápida à cidade e ficava mais um miradouro para trás.

Seguia-se Miradouro da Freixiosa, este ainda pouco visitado, mais um afundanço no gráfico da altimetria. Na descida o primeiro contacto com os canídeos, são assanhados os desta zona…

Da aldeia da Freixiosa à aldeia Vila Chã da Braciosa os primeiros trilhos com sal e pimenta, estava a contar com trilhos maioritariamente em estradões na GR36, a juntar às belas paisagens, apareceram trilhos com um T grande, não podíamos pedir mais nada nesta atividade.

Na aldeia de Picote com algumas varandas sobre o Douro, visitámos o Miradouro da Fraga do Puio, mais um de cortar a respiração, (três semanas mais tarde voltamos à aldeia de Urrós e descobrimos um dos mais espetaculares miradouros que vi sobre o Douro, uma verdadeira varanda). Aproveitamos esta varanda literalmente, para fazer a refeição mais longa, usar o garfo para encher bem a blusa, o Rocha ainda tentou que o Faria fosse buscar uma garrafa de vinho ao café mais próximo, uns 200m, mas ficamos a ver a água do Rio Douro a viajar até ao mar. Foi um belo “piquenique”

As árvores de fruta iam dando uma ajudinha ao estômago, e tudo o que pudéssemos vindimar aproveitávamos.

A GR36 afastava-se do Douro, proporcionando trilhos mais duros, os km já eram mais lentos,

Calçadas (calçada da Bemposta) a subir, descidas desafiantes que iam colocando mais pressão nas minhas costas, estas já estavam a pedir uma mochila mais leve.

Miradouro de Picões com uma vista mais alargado sobre o Douro e o Miradouro de Miguel Bravo, um dos mais famosos em forma de ferradura.  


Depois de nos deliciarmos com estes miradouros, tínhamos dois rabos de cabra para esfolar. Em 3km fazer 200+, mas a descida tb era muito complicada, um agricultor da zona decidiu passar a fresa na terra, levantou muitas pedras soltas e o piso ficou muito irregular. Era muito difícil pedalar, o andar ao lado da bike já era difícil, que fará tentar ir em cima dela.

O Faria liderava a descida, e ia avisando que esta estava complicada ao chegar à entrada da ponte de madeira que nos aguardava de braços abertos, enquanto descíamos a pique. Era só tentar descer em cima da bike sem que ela ganhasse muita velocidade e depois acertar na ponte que era praticamente da largura do guiador, sem dar cabo das mãos. Simples diz ele, desmonta que tb está bem assim. A subida foi a acartar as bikes às costas, as elétricas com 30kg… Não foi fácil transpor os socalcos de oliveiras com as analógicas, fará com as outras.

Acabava a subida já a dar pisca, 3km depois voltava a ter um Déjà Vu. Descida a pique, a descer foi como dava mais jeito, com 90km e já acordados há muito, as pernas e a lucidez não eram as melhores, a opção desmontar nas zonas mais técnicas foi a escolha acertada. A subida foi como a outra atrás. Subir em escalada, subir em cima da bike, arrastar a bike… lá está… era como dava jeito e o espirito mandava. Do outro lado do vale apreciávamos a descida, não parecia muito complicada, mas… estava do outro lado😅

A falta de sol já estava acentuada, nas zonas dos vales, uma encosta ainda se via alguma coisa, a outra já calcávamos zonas muito escuras. Ainda faltavam 10km e as pupilas começavam a dilatar, íamos chegar de noite de certeza.

O Miradouro dos Abicheiros era o último do dia, ainda o apanhamos com alguma luz

Começamos a aumentar o ritmo num estradão que ainda se conseguia enxergar, mas sentia-se a bateria da luz solar a perder força. O Rocha tb se começava a queixar do mesmo, as baterias da bike dele tb já estavam no limite.

O track saía do estradão e entrava num trilho mais sujo, com vegetação de alguns tamanhos, pedras soltas e ramos ao nível da cabeça. A iluminação artificial estava ligada, para partilhar peso uns levavam luz para a frente e outros para trás, mas no monte em zonas técnicas uma iluminação é pouca, que fará uma para dois. Encostado na rodinha do Rocha e o Miguel na do Faria desviados poucos cm uns dos outros ouvia-se, pedra à esquerda, ramo ao nível dos ombros, pedras soltas, pedra grande à esquerda, cuidado drop, etc & tal. Isto durante uns 2km, nunca mais acabava, para mim estava a ser a zona mais complicada, fiquei esgotadíssimo tal era a atenção exercida nestes 2km.


Avistávamos as luzes de Lagoaça e no estradão, já voltava a descomprimir. O Rocha já só estava a pedalar com vapores de bateria.

Os latidos de cães obrigavam a nova formação, juntinhos, com Rocha e Faria a iluminarem o trilho.

Iam aumentando a quantidade de cães a ladrar bem como o presumível tamanho destes, os latidos eram bem graves e quando começamos a ver aos cães dentro de uma exploração pecuária com rede ficamos mais tranquilos. Havia só um pequeno pormenor, o portão estava aberto, alguns já se encontravam à espera e foi uma aflição. O trilho era a descer, os da frente pareciam que estavam parados ou eu com demasiada força, estava na parte de trás era normal a aflição, não dava para olhar para trás, ia coladinho aos da frente, não havia espaço para ultrapassar e depois se os ultrapassasse ficava sem luz. Ouvia a cavalgada deles juntinhos a nós e visualizava alguns ao lado, com o afastamento da propriedade eles foram ficando para trás, e ainda bem que começava a subir para Lagoaça, o Rocha ficava definitivamente a pé, a bateria dele abandonou-o à sua sorte, 2km até à Estalagem Soeiro Meireles onde íamos jantar e ficar a pernoitar.


Colocar as E-bikes a carregar e os restantes gadgets, banho, equipamento para lavar na estalagem, jantar à patrão e no final uma pequena caminhada pela aldeia para desgastar e tentar endireitar as costas.

 

---------------------------------------------------------------------------------------------------------

 



clica na foto para aceder à galeria

2º dia - Lagoaça, Freixo de Espada à Cinta – Pocinho, Vila Nova de Foz Côa

 Dia 24, o relógio acordava cedo, começava por alongar a coluna e os músculos do trapézio. No dia anterior já o tinha feito e tinha melhorado bastante, era mais um dia longo e não pretendia sofrer tanto das costas como no dia anterior.


Pequeno almoço reforçado, e uma sandes para juntar ao almoço. As mochilas em vez de perderem volume aumentaram, a arrumação não foi a melhor. Equipamento lavado e seco, montar nas bikes e rumar ao primeiro miradouro do dia, Miradouro da Cruzinha com direito a baloiço e tudo, a vista estava boa, mas um medronheiro carregado de fruta bem madura e já com algum lastro no chão fez as nossas delícias, era a sobremesa a seguir ao pequeno almoço, estavam deliciosos.


5km depois voltávamos a outra varanda sobre o Douro, Miradouro do Carrascalinho, este era imponente, com paisagens a perder de vista, os grifos lá iam esticando as asas ao sabor das correntes de ar quente, um baloiço com aviso de peso suportado, dava só para tirar foto. Nem o Faria podia pousar o rabo neste.

Em Fornos o Rocha fazia-nos a visita guiada à aldeia, passou alguns dias por lá. Os Km começaram a ser rápidos e de Fornos, Mazouco até às bordas de Freixo de Espada à Cinta estavam a voar, estávamos adiantados. A companhia do Douro estava constantemente presente.

Uma figueira ajudava no percurso com figos maduros, estava um belo dia para pedalar e as costas estavam a aguentar bem a pancada.

Com Freixo de Espada à Cinta à vista o track enviava-nos para a Sª Dos Montes Ermos, ao começar a subida, ao longe, vimos um corço a atravessar um descampado.

Enquanto subíamos a paisagem engrandecia-se, do alto da Sª Dos Montes Ermos com uma vista de 360º a sua imponência aumentava. Na descida, a primeira parte em alcatrão com as bikes a passarem os 70km, e a segunda parte, um trilho rápido entre muros e quintais com pitadas se socalcos e curvas rápidas, um belo trilho.

Chegávamos ao Freixo com a Espada à Cinta, o nome desta cidade não pode estar melhor representado com uma tabuleta viva no acesso ao castelo altaneiro. Largamos as bikes e subimos à Torre de Menagem, alguns deixaram as mochilas em baixo, outros quiseram treinar pernas escadas acima. As escadas eram em espiral curta com degraus altos, cheguei lá cima já com pouco oxigénio, era para aumentar o acumulado 😊.

De Freixo de Espada à Cinta até ao Penedo do Durão foram +-7km, duros, as subidas eram bem inclinadas, trilhos com muita pedra, mas era um espetáculo observar o que ia rodeando a difícil subida. Ao longo do trilho cedros altos iam dando apoio, as cores das castas dos vinhedos iam proporcionado uma paleta de beleza inimaginável. As oliveiras mantinha-se em pé num relvado digno dos melhores craques. Foi tão prazeroso passar por ali…



O Penedo do Durão que tinha ficado fora dos rodados da minha bike, deixava agora as marcas. Local escolhido para fazermos a refeição grande do dia com sol😊. No fim fomos apreciar os grifos a tomarem conta dos céus por cima do Douro. 


10km sempre a descer, o Penedo do Durão ficava para trás e os km estavam a ser absorvidos rapidamente. Na aldeia de Poiares apanhávamos um pouco de alcatrão numa rua estreita serpenteada na Serra do Reboredo, mais uma zona montanhosa de elevada beleza com o Douro a acenar entre vales. A grandiosidade desta serra, com os seus diversos montes gémeos, e de difícil acesso obrigava a carregar nos travões para ter uma observação atenta aos pormenores, que paz…


As rodas voltavam a calcar trilho, e que trilho!!! que foi transformado em calçada, Calçada de Stª Ana, uma coisa de outro mundo. Escarpas pinceladas de tons amarelados, com drops e curvas de partir rins, escadas desformes continuas, apertos no coração e picos de adrenalina incontroláveis. A banana é projetada da mochila para o chão chamando-nos à terra. Este sim um verdadeiro trilho que nos marca para a vida, um trilho de coração cheio, de uma beleza única com cores escolhidas e apontamentos divinos.

Quando chegamos ao Ground Zero que ficava em cima da ponte por onde a Ribeira do Mosteiro se esgueirava, a explosão de bem estar por estar ali foi muito boa, nem a dificuldade que seria sair dali preocupava minimamente.

A subida era bastante escorregadia, era em xisto esverdeado do musgo e das ervas circundantes, o sol não entrava naquele lado do buraco, empurrar a bike já era perigoso e do outro lado não havia gradil se alguma coisa corresse mal. Mas estava-se bem… muito bem.

Ao lado da calçada de Stª Ana tem a calçada de Alpajares que tb está na ementa para um dia destes.

A saída da calçada tinha sido o canto do cisne para mim e para minha bike. Depois de 1,5km fiquei sem tração, parecia avaria para todo o dia, avaria no cepo foi a primeira sensação. (uns dias mais tarde o mecânico disse que o cepo estava bom, a avaria tinha sido na roda dentada onde o cepo amarra, uma avaria um pouco incomum, mas…)

Como é de esperar esta avaria quando estás bem longe de casa e da civilização é sempre um grande contratempo. O Miguel ligou ao colega Norberto que vivia no Mogadouro (40km em linha reta) para ver se nos conseguia desenrascar, enviamos fotos da roda para ver o que ele conseguia fazer. Entretanto as pernas começaram a fazer os km e os braços a empurrar a bike, a cabeça ainda estava a atualizar toda a informação que estava disponível e desligava-se de seguida, estava a ser mau demais. Era uma bela de uma subida, 6km com 350+. Tinha a GR36 a fugir, e estava a comprometer a dos meus amigos. Precisava de chegar o mais rápido à povoação para eles continuarem com luz do dia.

Quando a subida deixou de ser tão inclinada, subi para cima da bike e com a ajuda deles fui rebocado e empurrado, troquei com o Miguel que é mais leve e fomos puxando até chegarmos até à Aldeia de Ligares.

Em Ligares apanhei boleia de uma pick-up até ao café central, de lá podia esperar pelo táxi.

Enquanto esperava pelo contacto do taxista bebíamos umas cervejas super geladas. Liguei ao taxista e ele estava no Mogadouro, só vinha à noite… dassse “#%$%& o azar continuava. Disse para eles continuarem que tentava arranjar alguém que me levasse a Torre de Moncorvo. Alguns telefonemas de gentes de lá para ver se conseguiam alguém para me desenrascar, mas não estava fácil e o Sr Nel (presumo que era esse o seu nome, nascido em Amarante) com a carrinha cheia de material de pesca disse: “se ela couber ali dentro que me levava” e assim foi. Tirei a roda da frente e as redes e canas do Sr Nel apanhavam uma bike.

20km até Torre de Moncorvo. Este Sr não aceitou dinheiro nenhum de combustível nem do tempo perdido para me desenrascar, bem tentei, mas não consegui. “Acha que eu vou aceitar algum dinheiro de um azar seu?” dizia ele… vai ser uma pessoa que vai ficar na minha memória e história.

Já gostava de Trás os Montes com tudo o lhe é associado, mas com esta experiência de humanidade ainda mais.

Ficava na ciclovia de Torre de Moncorvo, onde era o ponto de encontro, o track passava por lá.

Ligava ao Miguel a dizer que já me encontrava no ponto de encontro. Eles estavam atrasados e a perspetiva de chegar de noite já se avizinhava. Ele Dava-me uma boa noticia, o Norberto em princípio ia consegui arranjar uma roda, e o melhor era eu botar bike ao caminho e ir em direção ao Pocinho via ciclovia, antiga linha do comboio do Sabor e era o percurso que iriamos fazer no dia seguinte.

Baixava o banco e transformava a bike num skate, pezinho a dar balanço e a gravidade tb ajudava.

O Sol já estava a perder força, a ciclovia ladeava o Rio Sabor e depois o Rio Douro, eu lá ia desaguando até ao Pocinho, fazia contas de quantos km ficariam por fazer na GR36, 60km estavam feitos, ficavam por fazer entre 20 a 30km, snif snif.

10km de ciclovia mais uns 3km até ao centro do Pocinho, estava acompanhado pelo som das rodas a rasgar a terra compactada e o som dos pássaros a despedirem-se do dia. Os tons amarelos torrados do fim do dia trazem-me uma nostalgia. Um dia grande que presta a fechar a porta. Um sentimento de perda por não fazer esta GR36 toda.

Aterro no Pocinho já sem sol, para afogar as mágoas vou beber umas cervejinhas numa esplanada, outra vez cerveja super gelada… enquanto aquece vou colocando a iluminação artificial na bike que já não se vê, e é preciso ser visto na estrada.

Coloco no gps Taberna da Julinha, local onde íamos pernoitar e jantar. Estava a uns 300m, era perto. Íamos ficar hospedados numa casa T2 e o restaurante ficava a 30m da casa, tudo perto.

*** versão do Miguel na continuação da GR36 ***

"Depois de uma passagem espetacular sobre a Ribeira de Mosteiró, que inclui a descida da calçada de Sant’Ana e a correspondente subida, em que todos reconhecíamos ser uma das mais espetaculares que fizemos.

Como prenda, a umas centenas de metros uma surpresa, daquelas que não devem acontecer neste tipo de voltas: o cepo (da roda da bicicleta) do Pedro deu de si! Força a mais? falta de manutenção?(discordo :(  Azar?... Lá teve o Pedro de fazer a subida atá Ligares a pé, connosco a empurrá-lo (ui, que pesado!...) nos poucos planos que encontrámos. (…)

 Deixado o Pedro entregue ao pessoal amigo de Ligares, que ficou de o “entregar” em Torre de Moncorvo, lá prosseguiram as duas elétricas e o “movido a pernas”. O tempo e a luz solar começavam a diminuir rapidamente, não havia tempo a perder, e lá fomos, bem até Maçores. Abastecemos de água (imagino o que será fazer este percurso no Verão, só para inconscientes), bebemos uma cola, e eis que encontrámos o Sr. (?) que tinha levado o Pedro até Torre de Moncorvo! Afinal, morava ali! Depois, o terreno é que não estava pelos ajustes: esperava-nos uma subida bastante inclinada, com piso com muita pedra pequena solta, que dificultava a progressão, que nos levou dos 540m para os 750 m em apenas 2 kms! As elétricas esperavam lá em cima, pacientemente, pelo Miguel, que pedalava debruçado sobre o guiador, para conseguir colocar força nos crenques. Depois, estava quase, nós no alto, e o sol a pôr-se… ainda andámos 5 kms no alto da Serra de Reboredo, numa cota próxima dos 800 m, com vistas espetaculares para o Poente, onde víamos o Sol a pôr-se, e o Pocinho, pequenino, lá em baixo. Foi no exato momento que o sol se punha que chegávamos à Fraga do Cão, na Açoreira.


Uma foto, para recordar, não havia tempo a perder, esperava-nos uma descida alucinante, de quase 400 m de D-, em pouco mais de 3 kms, ao lusco-fusco! Rocha seguia entusiasmado, a 70 kms / h, quando se lembrou que não valia a pena arriscar, tinha uma família, e decidiu abrandar; Faria, para não fazer pó para o Miguel, pôs-se ao lado deste, e assim rapidamente chegámos cá abaixo. No limite, pois já era praticamente escuro. E o Pedro, onde estava?! Tinha ido pela Ecovia, era sempre a descer. Como era noite, fizemos o mesmo, faríamos o que faltava da GR36 no dia a seguir, no regresso, invertendo o que estava planeado. Foi um bom treino, sempre a descer, a ver o Douro aqui e ali, ao (pouco) luar, com as elétricas a terem de se esforçar para acompanhar a bicicleta a pernas, que não está limitada a 25 kms/h. Todo o cuidado era pouco para não irmos contra os vários paus verticais que, volta e meia, apareciam na Ecovia. Pro fim, o Pocinho! Não fomos pela ponte antiga (ficaria para o dia seguinte), era um bocado arriscado, e já era tarde. …"***

Estava a tomar banho quando os outros chegaram, de noite como mandam as regras das nossa voltas. Banhos rápidos para todos e sentar no restaurante. Eles tb não fizeram o percurso todo em Torre de Moncorvo cortaram tb para a ciclovia, essa parte do percurso ia ser feita no dia seguinte. Já ficavam menos km por fazer na GR36.

Fomos muito bem atendidos e servidos pela hospitalidade da Julinha e do Sr Costa, estava tudo excelente, uma longa e preenchida refeição com tudo a que tínhamos direito.

Eu ficava mais satisfeito ao saber que o Norberto ia enviar uma roda na rede expresso, pelas 9.30h chegava à paragem do Pocinho.

No fim da refeição o Faria foi para o quarto e os restantes foram dar uma volta ao centro do Pocinho, uma volta pequenina, até deu para conhecer a estação de comboios que é o ex-libris da zona.

 

 

 

 --------------------------------------------------------------------------------------------------------

 

 

 

clica na foto para aceder à galeria

3º dia - Pocinho, Vila Nova de Foz Coa – Mogadouro - Paradela, Miranda do Douro

Dia 25, o dia voltava a acordar cedo, os habituais alongamentos, tinha corrido bem e as costas passaram o dia sem dores, e equipa ganhadora não se mexe.

Na nossa cozinha com pequeno almoço caseiro, nós é que tínhamos de fazer o trabalhinho todo. Tínhamos ingredientes muito bons e caseiros, é como se estivéssemos em casa. Muito bom.

A preparação da mochila era agora tirar lastro, como tínhamos de voltar ao Pocinho para levantar a roda da bike, deixávamos tudo o que não precisávamos para a pedalada do dia.

Às 9.20h Rocha e PedroS estavam na paragem de autocarro sem bikes, mas equipados. Algumas pessoas que aguardavam o autocarro iam olhando para dois cromos vestidos com roupa de ciclismo sem bike.

O autocarro chegava com 20 minutos de atraso, o motorista nem foi preciso dizer nada, saiu e disse: “querem uma roda”, nem sei porque disse aquilo nem onde foi buscar a ideia😇

Montamos a roda e o disco não chegava às pinças do travão, não há crise, não se perde mais tempo. O percurso era maioritariamente feito a subir, e o travão da frente dava ou devia dar para tudo.


Agradecemos a quem nos acolheu tb, e começamos a jornada do 3º dia.

Já passava das 10h quando começamos por atravessar a ponte antiga, num túnel de ferro com losangos simétricos com vista para o Rio Douro.

Entravamos na GR36 a subir 20% e 15%, concentra-te na vista que ajudo pensava eu, os pingos de suor já estavam a fazer barulho no quadro da bike.

Que bela manhã, até Torre de Moncorvo (10km) ia ser mais ou menos a rondar pendentes acima da média habitual. Ainda subimos mais um pico até ao marco geodésico para melhor contemplar as vistas sobre o Douro.

Os 10km que lhes faltaram no dia anterior para finalizar a GR36 estavam a ser feitos hoje. A mim ficavam entre os 18 e 20km por fazer.

O trilho era como um elevador, levava-nos por entre vinhedos e amendoeiras com as vistas sempre a aumentar no horizonte.

Entravamos no centro de Torre de Moncorvo, uma pequena vista à igreja matriz e a sua envolvência.

O relógio estava demasiado atrasado, para este dia as contas eram cerca de 120 a 130km com mais ou menos 1500 a 1700+ de acumulado para chegarmos ao carro.

A ciclovia no município de Torre de Moncorvo estava impecavelmente ciclável, mas os km continuavam lentos. O joelho do Miguel começava a soltar os rebites, a intensidade destes dias começava a desfazer a fisioterapia que tinha antecedido a GR36, o meu tornozelo estava a portar-se bem. Entramos os dois rebitados nesta grande volta e o treino não foi o melhor, mas foi chegando para o ritmo imposto. Só neste dia com o atraso no arranque é que começamos a ver que as horas do dia iam ser poucas para acabar o pretendido quando começamos a GR363.

Ao aproximarmo-nos de Carviçais o restaurante Artur de Carviçais começava a dar-nos ideias de comer de faca e garfo ao almoço, mas quando passamos era dia de folga. Lá tivemos de abrir a mochila e comer o que por lá andava.

O Miguel ligava ao Norberto a dizer que iriamos aceitar a ajuda dele, ele levar-nos-ia numa carrinha até ao carro em Paradela, nós só precisávamos de pedalar até ao Mogadouro.

Entravamos no município de Freixo de Espada à Cinta, a ciclovia começava a ser mais difícil de pedalar, muita vegetação alta e apropriação da mesma, saíamos para a N220, voltávamos a tentar a ciclovia à frente e cada vez era mais difícil, já era preciso uma roçadoura e moto serra. Voltamos para N220 e logo de seguida para a N221, ficava com pena porque haviam estações e apeadeiros dignos de uma visita. Vi fotos de alguns deles com painéis de azulejos muito bonitos, irá ficar para uma próxima oportunidade.

Pedalamos na N221 até Mogadouro, entramos na Vila e foi uma bela surpresa. Estava bem arrumada com bom aspeto, local onde apetece estar algum tempo para conhecer. Entravamos na zona histórica do castelo do Mogadouro, subíamos ao alto para ver as vistas circundantes.

Queimávamos uns minutos até o Norberto estar disponível para nos voltar a ajudar. Mas estava muito frio e fomos refugiar-nos numa esplanada mais abrigada. Neste dia acabamos com 75km e 1400+ de acumulado

Entretanto o Norberto chegava, foi-nos apresentado, aprontamo-nos a agradecer a disponibilidade de arranjar uma roda e a ter enviado via expresso, mais a viagem até ao carro, uns 60km ida e volta, se assim não fosse iríamos trabalhar quase de direta.

E para nos deixar ainda mais incrédulos convidava-nos para lá voltar no dia 13 de Novembro para o magusto da associação que ele pertence, com pedalada todo o dia e depois tasco à noite. O que se pode dizer destas pessoas? É que elas são mesmo bem vindas ao mundo.

Tentamos pagar o despacho da roda via expresso, o combustível e transtorno, mas o Norberto não aceitou.

Chegávamos ao carro já anoitecer. Desmontámos as bikes e destino Pocinho. Íamos lá tomar banho e jantar. Era dia de folga na Taberna da Julinha, mas abriram as portas para nos voltar a receber bem. Chegamos a Famalicão pela 1h da manhã, foram 3 dias muito compriditos.

Nesta GR36 ficaram na memória os trilhos com os miradouros sobre o Rio Douro como ex-libris, as diversas paisagens, muito riso e companheirismo. Duas pessoas, o Sr Nel e o Norberto, que conheci e não vou esquecer pelo grande coração que têm em ajudar sem pedir licença, e a quem nos recebeu nas dormidas e restaurantes (principalmente na Taberna da Julinha) que fomos sempre bem recebidos.

Três dias grandes e brutais!