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Há uns anos atrás vi umas fotos de uns caminheiros em Freixo
de Espada à Cinta, fiquei logo com vontade de percorrer os trilhos de bike. Os
anos foram passando, e em conversa com o Miguel Martins, encontrava a data,
este ano no início da primavera percorreríamos os trilhos.
Como parti o cotovelo, a viagem só pode ser feita em julho
num belo dia de calor na terra quente.
O pedido do track era +- 100km e uns 2500+. Quando chegou
via mail PedroS e Faria deram um salto
dos grandes, 150km e 4000+. Tivemos de fazer uns cortes e arrancamos de Barca
D´Alva.
Miguel Martins e PedroS no Renault com as bikes analógicas
dentro da mala. Rocha e Pedro Faria num Toyota hibrido com as bikes elétricas
no suporte do reboque.
Mais uma bela madrugada para insuflar o cheiro a bike dentro
do carro, este cheiro é sublime que desperta a felicidade que é andar de bike
no monte o dia todo.
A viagem de carro é longa, não chegamos lá mal acaba a auto
estrada. Tinha estada em Barca D´Alva há poucas semanas e vi que nos tínhamos
enganado quando vejo a placa do “bem-vindo ao Pocinho”. Os analógicos foram
tirados da liderança e entraram os elétricos no gps.
Os elétricos com entusiasmo lá iam na senda de Barca D´Alva,
pela margem do Rio Douro em estrada estreita, mais apertada pela vegetação que
ia ganhando espaço à estrada. O gps deles já nos estava a enviar para uma
“estrada/trilho” em terra, o Faria já estava a entrar na loucura, desistimos da
terra e continuamos na estrada estreita de um só carro. O Faria tirava a pele e
era agora o Colin Faria McRae, sempre de gás nas curvas estreitas de montanha…
“EUFARIA” 😎…
Chegávamos finalmente a uma estrada onde já dava para circular entre dois carros. O gps dizia que faltavam uns 15km. A descida era muito acentuada para Barca D´Alva, com o Rio Douro a dar-nos as boas vindas, era de uma paisagem grandiosa de tanta beleza. O Faria continuava em modo Colin Faria McRae na descida, os analógicos ficaram sem travões e tivemos de abrandar e parar uns minutos para o carro voltar a travar.
Começamos a andar de bike às 9.00h, o sol já levava um
grande adianto, já estava lá no alto. As pingas de suor já estavam presentes.
O percurso começava por ladear o Rio Douro e o caminho de
ferro, deixando o centro para o trilho que virava para as colinas de vinhedos.
Sentia-me um verdadeiro vindimador de trilhos. A paisagem é qualquer coisa de…
imensa beleza, e nós ali plantados a apreciar a junção de cores e relevos que os
olhos nos presenteavam…
O Rio Douro de margens largas começava a estreitecer enquanto nos afastávamos nas subidas serpenteadas da vinha, o suor já funcionava como rega gota a gota.
Deixávamos os vinhedos e mudávamos para os olivais, só não mudava a inclinação, essa era sempre a subir. A água do bidão e camelbak já estava em formato chá, o que é agradável com temperaturas acima dos 30º.
A paisagem voltava a mudar, parecia que estávamos em bocados de Alentejo com as searas pintadas de amarelo torrado, mais uma quantidade de postais onde dá vontade de criar raízes durante umas largas horas e seguir as cores que o sol pintava, num planalto antes de Figueira de Castelo Rodrigo.
Todos os bocados de sombra eram aproveitados durante o percurso, mesmo uma sombra a meia altura tb servia.
Começávamos a ver o alto de Castelo Rodrigo, a média devia
estar uma loucura.
A nossa incursão ao Castelo Rodrigo foi feita pelo trilho do
pinhal, o alcatrão estava muito quente, e pinhal sempre tem algumas sombras,
poucas… mas muita inclinação, a bicicleta na subida ia quase parada, menos as
elétricas que se viam a desaparecer monte acima.
Conquistávamos a subida a ferrar no avanço, e entravamos
triunfantes nas muralhas do castelo. Fizemos um cerco a uma bica de água e
quase a esgotamos, demos uma volta ao centro das muralhas para ver as vistas e
exploramos o interior. Eu e o Rocha já lá tínhamos passado num NGPS.
Três horas depois do arranque 21km feitos!!! Grande média…
tb foi sempre a subir. O corpo merecia uma recompensa, ou o cérebro, uma
cerveja fresquinha que até arrepiava de tão saborosa que estava.
A primeira descida do dia, digna desse nome, refrescou-nos o corpo um pouco. Entravamos na parte menos interessante do percurso, como tivemos de reduzir km ao track inicial, um dos cortes era ir pela estrada a seguir à descida de Castelo Rodrigo até Puerto Seguro em Espanha, 20km de alcatrão quente.
A vista do vale era deslumbrante, fazíamos um mix de descida
e paragem para apreciar a paisagem, os abutres com o som que fazíamos na
descida começavam a levantar voo, ou era o cheiro que trazíamos dava-lhes
ideias de carne morta ou hora do lanche.
Do outro lada da encosta víamos o serpentear da subida, já doía… evitava olhar, fixava-me no Rio Águeda e na bela ponte em pedra e apreciava a engenharia e sua arquitetura. Merece sem duvida uma visita.
Antes do começarmos a descida tínhamos a ideia de nos
refrescar no rio, mas só à base de Bungee Jumping ou rapel, ou simplesmente
suicídio.
Começava a subida, antes tiramos a febre à temperatura
ambiente e estavam 41ºc. A minha transmissão não estava a ajudar e a avozinha
não queria entrar, só entrava a tia avó. Quando a inclinação era grande (zonas com 18% e 24%) aliada
ao piso irregular a corrente caía da 1º para a 2º dificultando ainda mais a
minha progressão em cima da bike.
O som das pingas do suor a cair em cima do quadro da bike ia dando o compasso subida acima. As sombras eram aproveitadas para descansar e oxigenar e fazer de conta que via a paisagem mais demoradamente, estava dura a subida… A água voltava a saber a chã em 10km. Já dava enjoos, mas não havendo outra…
Durante a subida só se falava em cerveja fresca, já estava a
dar em doido ou alucinado, até já sentia o sabor da cerveja goela abaixo.
A primeira povoação a seguir à Ponte dos Franceses foi São Félix dos Galegos, (pertenceu algumas vezes a Portugal e foi D. Dinis que mandou construir o castelo) palmilhamos as ruas todas à procura de um tasco para beber a prometida cerveja ao corpo, não estava fácil já todos dormiam a siesta. Encontrámos um com esplanada que começava a arrumar as cadeiras, não arrumou todas e sentamo-nos a cantar (com sotaque portanhol) “caminhando pela canha eu te vi”. As cañas estavam a estalar e saborosas, o Rocha mal pegou no copo o guarda redes nem teve hipótese. Ah!!!! O que um copo de cerveja consegue fazer… enche a alma, mas dá cabo das pernas. Snif!!! Snif!!!
O track entrava numa zona bem divertida com STs e trilhos
mais desafiantes, os estradões tórridos entre aldeias tb lá estavam. Não encontramos
mais nenhum motivo para cantar a musica “caminhando pela canha eu te vi” não se
via vivalma nem cerveja. O chá voltava ao palato e já não apetecia comer nada
que levava. A pele parecia que estava a levar um escaldão dos diabos, embora
tivesse colocado umas doses extra de protetor solar.
Já dizia para mim mesmo não vou à Calçada de Alpajares e
Penedo do Durão, estou a ficar todo F#$%& prefiro ficar em Barca D´Alva na
cerveja, aprendi esta técnica com o Rocha. Depois de interiorizar a minha ideia
aviso os meus companheiros de insolação.
Antes da chegada a Fregeneda aparece mais um rabo de cabra
para esfolar, uma curta subida técnica onde descarreguei a minha última vontade
de fazer mais subidas neste dia. Saí esgotado e com mais uma dor na boca do
estômago. Na tentativa de subir uma pedra, esta escorrega e eu bato com o peito
no avanço, era o sinal que o que eu queria era uma esplanada.
Fregeneda, mais uma refrescadela de corpo e deitar o chá
fora. Agora voltava a ter água fresca no bidão durante mais meia hora.
Com o Rio Douro na retina Barca D´Alva devia estar a
aproximar-se, o calor esse estava a aumentar, mesmo na descida não baixava
um grau.
Uma vista fantástica com o sol a pintar o Rio Douro em cor prata, a ponte em Barca D´Alva já se avistava, voltava o ânimo da cerveja fresca. Esta zona em descida foi a mais quente que o meu corpo sentiu no dia, havia bocados do trilho em que era difícil respirar de tão abafado que estava.
Usávamos o caminho de ferro desativado para transformar as
bikes em comboios individuais, chegávamos à estação de Barca D´Alva e os carros
estavam a cem metros.
Refrescamo-nos no Rio Douro com uma bela sensação de
frescura, a primeira do dia, depois usamos o rio como banheira gigante e
tomamos banho.
Uns finitos em Barca D´Alva, subir ao Penedo do Durão
(brutal a paisagem lá de cima) e depois jantar em Freixo de Espada à Cinta, que
bem que soube e sabe depois de uma tareia conviver e degustar. Quando chegamos
a Famalicão continuamos a conviver à volta de uma bela de 1,5L.
Que belo e grande dia… 93km e 2200+, 7h em movimento de bike
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