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Passado um ano à espera do EPX 2021, eis que ele nasceu. O ponto nevrálgico escolhido foi a Aldeia de Lindoso. A partida e chegada era no meio dos famosos espigueiros, cheia de glamour.
Com quase dois meses de inatividade física por ter partido o
cotovelo numa keda de bike em março, a ansiedade era grande por achar que esse
tempo parado me podia fazer falta neste dia.
No dia anterior ao EPX 2021, o tempo previsto não era nada
animador e a probabilidade de chuva era grande para o dia todo, procurei em
alguns sítios na net e em todos era… vais levar com chuva durante muito tempo.
Preparar para levar roupa a mais no passeio para trocar.
O relógio estava pronto a disparar às quatro da manhã, uma
hora de viagem, mais pequeno almoço e preparar a bike para arrancar, devia
chegar. A minha box de saída só estava pronta lá para as 6.20h.
O tempo parecia que estava melhor para o dia e já não estava
tão ameaçador.
Às 5.45h já estacionava o carro, montar a bike e fazer os
preparativos para arrancar. Reparo que deixei o bidão com os sais em casa
F?&%$#”, (quando cheguei tb reparei que não levei o saco para o banho e
troca de roupa. (preciso de férias)
Começo a ver caras conhecidas de companheiros das bikes, e algumas caras conhecidas na organização.
Quando chego aos espigueiros vejo mais gente conhecida,
muitos com verdadeiras mochilas, como se fossemos fazer os caminhos de S.
Tiago.
Achava que a madrugada estava muito quente, e a subida aos
espigueiros já me punha a transpirar, roupa a mais, tira mais uma peça. Àquela
hora da manhã estava bom para pedalar de manga curta.
Falei com o Miguel Martins, um dos pais da criança,
juntamente com o Joel Braga, para ver se havia um bidão que me pudessem
emprestar, ainda tentou, mas não foi possível. Esquecer a falta e tentar
resolver a falta de sais para a quantidade de horas a pedalar.
O EPX2021, para mim, ia ter uma particularidade, como era o
último a sair não havia ninguém que ia passar por mim, a não ser o Daniel
(vassoura) que ficava no alto da subida à espera que eu chegasse.
Deu-se o arranque e eu ainda de máscara, toca a tirar e
guardar, ai que nervoso…
Os primeiros metros já só via o Daniel (vassoura), mas ao
chegar ao alcatrão já via o Luis Martins que ficou à espera do Paulo Gonçalves
que saía na mesma box que eu.
Fizemos um pelotão final de 4 bikes. Os primeiros 10km eram
em alcatrão, começando por atravessar a barragem do Lindoso em direção à aldeia
do Soajo. O Paulo começava a desaparecer na frente do alcatrão e só o voltamos
a ver no Soajo.
Mais uma bela coleção de espigueiros e uma calçada muito
interessante, (saímos do alcatrão para por as pernas em sentido na calçada)
para se fazer à mão, dava para pedalar em cima, mas o esforço exercido podia
fazer falta mais para o final.
A meio da subida da calçada, tirava mais uma camisola,
estava um calor do C”#$%&, abafado e húmido, ainda não tinha estabilizado o
meu corpo para este empeno e não ia muito confortável.
O Luís ficava na companhia do Daniel, o Paulo para a frente,
e eu começava a entrar no meu ritmo o os batimentos começavam a não oscilar
muito, estava finalmente em prova.
Juntava-me ao Paulo, e da Porta do Mezio até à aldeia Bouça
do Homens pedalamos juntos.
Estávamos os dois com as mesmas ideias de fazer Green Wolf
130km e tentar o White Wolf 150km se as pernas e as barreiras horárias o
permitissem. Estávamos a pedalar igual, e com companhia a aventura torna-se
melhor.
Antes da Porta do Mezio já se avistavam alguns bettistas,
ainda bem, não estávamos só os quatro.
Quando chegamos à Aldeia de Avelar, mais movimento de bttistas, o Joel Braga (outro dos mentores do EPX2021) mandava descer à mão, a organização tinha tratado da logística toda, mas não conseguiram tratar do dentista e ortopedista. Era melhor descer à mão e mesmo assim não foi fácil.
O Joel, um gajo porreiro, dava-nos força, depois de descer
vai ser sempre a subirrrr, uma palavra com muitos Rs, deixou-me logo
entusiasmado. Foram 12km com 900+ de acumulado. No total, já íamos com 44km e
2000+ de acumulado nas pernas.
Zonas bem inclinadas, mas a paisagem começava a brotar e
quando o nevoeiro deixava, e foram muitas as vezes, a paisagem ajudava a
subida. Voltava a vestir um corta vento, mesmo a subir o vento trazia dor de
tão gelado que estava.
A primeira barreira horária estava na aldeia da Bouça dos
Homens, e nós chegávamos com 1h de oxigénio a mais.
Aproveitávamos para encher água e abastecer o depósito de
comida, enquanto fazíamos a reunião de condomínio. Uns 9 bettistas juntavam-se
à volta de uma fonte.
O Luís Martins chegava e tinha entregue a vassoura a outro.
Mas quando o vi a tirar a marmita, a toalha, garfo, copo, aparelho de música e
grupo de rancho folclórico, decidi arrancar devagar à espera que eles me
apanhassem.
Mais uns km de alcatrão até ao parque de campismo de Lamas
de Mouro, num ritmo descansado.
Entrava numa zona muito bonita de trilhos que ladeavam o
parque de campismo. Voltava a parar para apreciar a beleza da natureza e dar
mais uma trinca na sandes.
Dois colegas dos 9 do condomínio chegavam, perguntei se
tinham visto os meus colegas iniciais, disseram que quando arrancaram ainda ficaram
por lá. Estes dois ficaram a tomar café em Lamas de Mouro e eu subi para a
aldeia de Portelinha em ritmo pausado. Cheguei ao topo e aguardei mais um
pouco. Os colegas do café chegavam, e os iniciais nem vê-los. Optei por os
acompanhar, colocar o meu ritmo e zarpar.
De Castro Laboreiro até ao ponto mais alto do percurso, os
trilhos e estrada já estavam bem pintados de bttistas, já havia mais companhia.
Enquanto dava aos cranques admirava o vale da Srª de Anamão, uma zona que pretendo explorar.
Apanhava mais dois colegas e tentava convencê-los a virem
para os 150km. Um ainda estava com a guelra vermelhinha, o outro já estava a
precisar que o percurso não tivesse mais km.
Aproximava-me do ponto mais alto do percurso, onde jaziam
enormes ramos/troncos de pinheiro de um branco baço a lembrar ossadas de
animais de grande porte que por ali habitaram há muitos anos. Um quadro muito
bonito.
O vento estava a soprar com alguma intensidade, e quando cheguei ao topo comecei a descida à procura de uma zona abrigada para encher bem o depósito e vestir roupa mais quente. Não havendo alternativa sentei-me no chão encostado a uma rocha para me proteger do vento e preparei-me para a descida e restantes km.
O dedo anelar começava a ter espasmos, parecia que estava a
despedir-se dos outros quatro, ia ficar pelo caminho, coisa estranha. Já não
devia ter sangue ou não havia circulação.
Entrava numa zona rápida de pinhal com a temperatura a
subir, abria o capô para entrar mais ar.
Agora apareciam ST, adoro ST principalmente a descer, este
era sobe e desce, carrega nos cranques que está a ser fixe, a temperatura
continuava a aumentar.
Como estava a curtir os trilhos não me apetecia parar para
desencasacar, só quando os ST desaguassem num estradão é que estava para aí
virado por isso… vamos lá derreter até ao fim.
E foi mesmo até ao fim. Parei para mudar as pilhas ao GPS,
tirar o casaco, e voltar a comer. Quando arranquei a bike não andava, vi a
pressão dos pneus, estava bem mas a bike continuava a não andar como vinha até
então. Olho para o chão a ver se via óleo não vá ter partido o motor, nada… nem
uma pinga de óleo. O arado estava acoplado à bike, deve ter sido o homem da
marreta que o acoplou sem eu me aperceber enquanto mudava as pilhas ao GPS?!!!
Ca p”#$% de marretada… 105km… pummm nem me apercebi.
Pus a minha melhor cara de empenado e lá fui subindo na
avózinha devagarinho só para manter a bike em equilíbrio. AHHHH que ST
porreiros… agora chora e pedala só com a alma.
Enquanto pedalava devagar (que remédio não dava para mais…), ia hidratando e comendo o que podia, a ver se ainda conseguia parecer um espetro em cima da bike sem cara de empenado.
O track voltava a enfiar-me noutro ST, a gravidade fazia o
meu trabalho, ai que estava a saber tão bem.
Atravessava o rio em direção a Lobios e aí é que eu vi que
estava num molho. Já estava com alucinações e achava que estava a fazer o
percurso da Stª Eufémia ao contrário. Como não parava de subir eu começava a
desconfiar que estava mesmo ao contrário. Desliguei o GPS e voltei a carregar o
track algumas vezes, como não parava de subir um homem desconfia, é normal não?
E pensava eu, ai tu querias ser um White Wolf? Ainda estás muito verdinho
(Wolf)….
O tempo estava a piorar e eu já cantava, ai tu querias ir para
a Stª Eufémia? Sim, um empenado fala sozinho, não havia ninguém com quem falar…
disfarçava e parava para ver o espelho de água da barragem do Lindoso,
petiscando uns frutos secos como se estivesse ali por acaso.
Lá estava eu na minha visita de turismo quando sou ultrapassado por dois bttistas com cara de Stª Eufémia, passaram com uma bela cadência, não iam empenados, deixei-os ir. Estava no sentido certo do track, pelo menos essa preocupação desaparecia.
Logo de seguida por trás ouço uma voz conhecida do Roberto
Aires, a dizer para eu não fugir, até deu vontade de rir. Tb vinha da Stª
Eufémia e dizia-me que a subida foi dura como um corno. Levava a cadência
idêntica aos outros dois, ele tb não ia empenado e lá foi…
Voltava a gravidade da descida do estradão final que
entroncava no alcatrão, e que me levava para a meta.
Na descida de alcatrão apanhava o Aires (sou mais pesado…),
estava a encher o bandulho. Perguntei-lhe se ainda ia ao topo da Serra Amarela,
ele estava com dúvidas. Depois de ter visto o vídeo dele com os óculos
embaciados e a pingar no alto da Louriça, a gritar que nem um “louco”… vi que
se transformou num lobo preto.
E voltei eu ao ponto de partida, os espigueiros aplaudiam de
pé, agradeci efusivamente.
10.50h em movimento, 13.00h de tempo decorrido.
O Sidónio, foi para o Black Wolf, o Paulo para o White
Wolf e o Luís Green Wolf
Já conhecia algumas partes do percurso, que é uma zona muito
bonita e dura. Sabe sempre bem pedalar por estas zonas.
Para mim valeu a pena, estava com fezada que conseguia ser
um White Wolf, o que não me deixou completamente satisfeito, mas fiz o meu
record de km e acumulado num trilho de btt.
um abraço aos Mentores deste projeto, Joel e Miguel e a todos os que os ajudaram
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