sexta-feira, 20 de novembro de 2020

20 de novembro 2020 Três Reinos

  

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Que saudades tinha de ver o sol nascer dentro de um carro em andamento, com o cheiro a bike na mala.

Tem sido um ano assim pró esquisito, onde quase não vês ninguém que costumas encontrar a derreter transmissões.

Saía eu do trabalho quando tropecei no Miguel Martins no passeio, uma conversa sobre trilhos para Trás-os-Montes deu o mote para nos juntar. Arranjamos o dia para matar saudades destas viagens de prazer de btt aliado ao turismo e conhecimento.

O trilho escolhido foi pela vertente Histórica dos Três Reinos, mas o gps ia carregado com quatro tracks, íamos seguir o road-book que o Miguel idealizou. Era entrar num track e sair, cortar e coser, juntar outro e olhar para o relógio e pernas para ver por qual track iríamos seguir.

Estavamos só os dois na calha para o passeio, mas hoje em dia há muita gente a tropeçar, o Luís Martins tropeçou no Miguel e o Rocha tropeçou em mim. Dobramos a capacidade.


Em direção a Mezquita em Espanha, onde a equipa ia largar a transportadora de bikes.

O dia estava mesmo a acordar, o sol ainda estava debaixo dos cobertores, estava quentinho e não se queria levantar, deixando-nos com o pingo no nariz. Que frioooo, máxima de 11ºc.

O Luís, precavido (como anda nisto há muitos anos) trás o bidon vazio, sem uma única gota de água, andamos à procura de fontes secas, e fontes secas, deviam estar congeladas. De nenhuma saia uma gota de água, ele estava com sorte e ao sair da vila encontrou uma com água.

Nem dois km feitos já começávamos a enterrar a bike até meio das rodas na lama. Começava bem, molhar os pés era praticamente fatal. Com alguma ginástica lá conseguimos safar-nos com pouca água/lama nas botas.

Estava um belo e frio dia de outono, esta altura do ano tb sabe bem fugir para estas zonas para ver esta estação na sua imponência máxima.

Os km ainda não tinha dois dígitos e o Miguel já tinha uma avaria de arregalar bem os olhos. O cranque desengatou do centro pedaleiro, ficou a pedalar só com um. Tentamos arranjar e uns km à frente voltava a sair. O Rocha lá apertou com os Newton suficientes, de 4,6 de força Newton.

Aguentou mais tempo e mais km..

A nossa visita histórica ficava nos primeiros km do percurso, o Penedo dos Três Reinos  

 Entravamos em Moimenta para fazer um trilho pedestre em calçada de 8/9km. Decidimos fazer a descida pela calçada, a subida seria uma grande parte à mão. Mesmo assim, o Luís fez jus ao nosso grupo e Keda. Calçada molhada e pintada de verde a descer, a probabilidade de keda é grande. O Miguel voltava a ter problemas na bike, a trepidação soltava a válvula. Estava em dia sim. Entravamos na zona da descida sem água com um fenomenal tapete de outono a cobrir a calçada dando mais aderencia à bike (achava eu) escondendo alguns buracos mais traiçoeiros provocando alguns calafrios.

Viemos desaguar à bela ponte medieval do Couço sobre o rio Tuela. O Luís trazia mais uma medalha keda. Paramos para desfrutar das vistas e contemplar. Os tons castanho, laranja, verde e penedo que nos circundavam, aliados ao cantar do rio deixava-nos pregados o olhar em cada cor. Com pena deixava este belo canto medieval já com saudades, para começar aquecer as pernas numa subida/escalada sempre com o ritmo cardíaco a sair pela boca nem era necessário olhar para o gps para ver que estava sempre no limite ou acima, mas sempre a tentar subir em cima da bike, não era fácil. Mas tb não seria fácil subir a calçada molhada em cima da bike. Acho que fizemos a melhor escolha.

Deu um certo prazer subir este trilho que espero um dia o descer 😁. Cheguei ao miradouro todo rotinho, não era o único, até o Rocha dava mostra que não veio confortável na sua E-bike


No miradouro com vista para Moimenta e Vale do Tuela, com o vento a elevar-nos transformávamo-nos em aves de rapina e comtemplávamos as vistas do topo daquele mundo.

A descida até Moimenta foi um género de corta mato, cada um escolhia o trilho que mais lhe interessava tal a incapacidade de encontrar um trilho marcado no chão. O Luís encontrava mais uma medalha keda. Já pode vir para o nosso grupo, tem todas as aptidões para vir para os  KEDASbike.

Antes de fazermos este trilho pedonal, tínhamos encomendado um belo repasto no tasco do Sr Amadeu. Quando chegamos tinha tudo pronto, serviu-nos o vinagre sem as batatas e sem o azeite, perguntamos pelo vinho ele disse que já estava na mesa… dasse com c”#$% que vinho fraco… trocamos de galheteiro e o presunto, chourição, pão e as azeitonas já sabiam melhor.

Um engano para a pancada que seria a subida ao alto da Serra da Coroa, já lá tinha estado no NGPS de Vinhais todo mamadinho.

A subida gradual deixava outra vez o Miguel pendurado com um só cranque, o Rocha aumentava a força Newton para 7,2 durou o resto do passeio.

No alto o frio vinha em forma de facas, protegíamo-nos encostados ao marco geodésico, e carregávamos o estômago de energia.

A descida em estradão aumentava rapidamente os km e o frio, já me arrependia de ter deixado o impermeável mais resistente no carro.

Uns sinais de lembrança voltavam ao NGPS de Vinhais, já tinha estado nesta fronteira que nos voltava a levar bem perto do Penedo dos Três Reinos

Voltávamos a embrenhar pelos bosques de soutos, com muito outono pelo chão, folhas, pequenos ramos, ouriços e poucas castanhas eram calcados pelas nossas rodas dando voz ao outono, com o verde a puxar pelos castanhos. Zona muito bonita…

O Sol começava a ficar cansado, estávamos com uma hora e pouco de luz solar. Estávamos em Chaguazoso tínhamos duas opções, continuar no trilho +22km ou cortar para o carro +6k. Decidimos continuar com o Luís a queixar-se de uma dor na anca, mas que dava para continuar.

Uns 2km à frente problemas para a bike do Rocha, desviador desintegrou-se, o melhor as roldanas do desviador desapareceram. Teve de voltar para Chaguazoso  e dali para o carro com a companhia do Luís.

Miguel e PedroS continuaram no percurso e os km estavam a render. Pelo meio de pinhal com algumas zonas rápidas, outras de trilho com pouco uso onde o sol nesta altura do ano nem toca no chão, o frio já ia anestesiando os meus joelhos. Atravessar um ribeiro/rio com uma ponte semidesfeita ajudava a dar um salto nos minutos perdidos com a subida de um corta-fogo a tirar o ar.

O sol já tinha caído quando chegamos ao topo, a lua e as estrelas já estavam a observa-nos, com as pupilas dilatadas para vermos melhor e com o sonar ligado carregávamos freneticamente nos cranques para acabar o mais rápido possível. Não sabia quantos km faltavam e já não se via nada. O Miguel levava luzes dianteiras o que ajudou nos últimos km.

Foi um dia em que pedalamos antes de ver o sol em pé e só paramos quando demos as boas noites à lua e às estrelas.

No percurso o Rocha viu um veado e PedroS um corço e diversas aves de rapina.

Foi um passeio muito bonito (a altura do ano foi bem escolhida) com trilhos de todo tipo.

No fim um bom jantar e uma visita a adega Encostas de Sonim para um dia em cheio.