sábado, 10 de julho de 2021

10 de Julho 2021 Barca D´Alva, F. Castelo Rodrigo, Ponte dos Franceses…

 

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Há uns anos atrás vi umas fotos de uns caminheiros em Freixo de Espada à Cinta, fiquei logo com vontade de percorrer os trilhos de bike. Os anos foram passando, e em conversa com o Miguel Martins, encontrava a data, este ano no início da primavera percorreríamos os trilhos.

Como parti o cotovelo, a viagem só pode ser feita em julho num belo dia de calor na terra quente.

O pedido do track era +- 100km e uns 2500+. Quando chegou via mail  PedroS e Faria deram um salto dos grandes, 150km e 4000+. Tivemos de fazer uns cortes e arrancamos de Barca D´Alva.

Miguel Martins e PedroS no Renault com as bikes analógicas dentro da mala. Rocha e Pedro Faria num Toyota hibrido com as bikes elétricas no suporte do reboque.

Mais uma bela madrugada para insuflar o cheiro a bike dentro do carro, este cheiro é sublime que desperta a felicidade que é andar de bike no monte o dia todo.

A viagem de carro é longa, não chegamos lá mal acaba a auto estrada. Tinha estada em Barca D´Alva há poucas semanas e vi que nos tínhamos enganado quando vejo a placa do “bem-vindo ao Pocinho”. Os analógicos foram tirados da liderança e entraram os elétricos no gps.

Os elétricos com entusiasmo lá iam na senda de Barca D´Alva, pela margem do Rio Douro em estrada estreita, mais apertada pela vegetação que ia ganhando espaço à estrada. O gps deles já nos estava a enviar para uma “estrada/trilho” em terra, o Faria já estava a entrar na loucura, desistimos da terra e continuamos na estrada estreita de um só carro. O Faria tirava a pele e era agora o Colin Faria McRae, sempre de gás nas curvas estreitas de montanha… “EUFARIA” 😎…

Chegávamos finalmente a uma estrada onde já dava para circular entre dois carros. O gps dizia que faltavam uns 15km. A descida era muito acentuada para Barca D´Alva, com o Rio Douro a dar-nos as boas vindas, era de uma paisagem grandiosa de tanta beleza. O Faria continuava em modo Colin Faria McRae na descida, os analógicos ficaram sem travões e tivemos de abrandar e parar uns minutos para o carro voltar a travar. 

Começamos a andar de bike às 9.00h, o sol já levava um grande adianto, já estava lá no alto. As pingas de suor já estavam presentes.

O percurso começava por ladear o Rio Douro e o caminho de ferro, deixando o centro para o trilho que virava para as colinas de vinhedos. Sentia-me um verdadeiro vindimador de trilhos. A paisagem é qualquer coisa de… imensa beleza, e nós ali plantados a apreciar a junção de cores e relevos que os olhos nos presenteavam…

O Rio Douro de margens largas começava a estreitecer enquanto nos afastávamos nas subidas serpenteadas da vinha, o suor já funcionava como rega gota a gota. 

Deixávamos os vinhedos e mudávamos para os olivais, só não mudava a inclinação, essa era sempre a subir. A água do bidão e camelbak já estava em formato chá, o que é agradável com temperaturas acima dos 30º. 

                           

A paisagem voltava a mudar, parecia que estávamos em bocados de Alentejo com as searas pintadas de amarelo torrado, mais uma quantidade de postais onde dá vontade de criar raízes durante umas largas horas e seguir as cores que o sol pintava, num planalto antes de Figueira de Castelo Rodrigo.

Todos os bocados de sombra eram aproveitados durante o percurso, mesmo uma sombra a meia altura tb servia.

Começávamos a ver o alto de Castelo Rodrigo, a média devia estar uma loucura.

A nossa incursão ao Castelo Rodrigo foi feita pelo trilho do pinhal, o alcatrão estava muito quente, e pinhal sempre tem algumas sombras, poucas… mas muita inclinação, a bicicleta na subida ia quase parada, menos as elétricas que se viam a desaparecer monte acima.

Conquistávamos a subida a ferrar no avanço, e entravamos triunfantes nas muralhas do castelo. Fizemos um cerco a uma bica de água e quase a esgotamos, demos uma volta ao centro das muralhas para ver as vistas e exploramos o interior. Eu e o Rocha já lá tínhamos passado num NGPS.

Três horas depois do arranque 21km feitos!!! Grande média… tb foi sempre a subir. O corpo merecia uma recompensa, ou o cérebro, uma cerveja fresquinha que até arrepiava de tão saborosa que estava.

A primeira descida do dia, digna desse nome, refrescou-nos o corpo um pouco. Entravamos na parte menos interessante do percurso, como tivemos de reduzir km ao track inicial, um dos cortes era ir pela estrada a seguir à descida de Castelo Rodrigo até Puerto Seguro em Espanha, 20km de alcatrão quente. 


Ponte dos Franceses, um ponto obrigatório de passagem para este passeio, era-nos apresentado o trilho que nos levava até ela. Era um trilho em forma de poço, descia a pique e subia a pique. A descida, um pouco técnica pelas curvas acentuadas juntando à velocidade provocada pela gravidade, os rins e os braços eram os que mais sofriam. Os rins eram apertados com as curvas a 360º, as pedras que eles por lá vão fabricando eram esmigalhadas. Os braços pareciam que estavam a fazer ginásio durante umas largas horas.

A vista do vale era deslumbrante, fazíamos um mix de descida e paragem para apreciar a paisagem, os abutres com o som que fazíamos na descida começavam a levantar voo, ou era o cheiro que trazíamos dava-lhes ideias de carne morta ou hora do lanche.

Do outro lada da encosta víamos o serpentear da subida, já doía… evitava olhar, fixava-me no Rio Águeda e na bela ponte em pedra e apreciava a engenharia e sua arquitetura. Merece sem duvida uma visita.

Antes do começarmos a descida tínhamos a ideia de nos refrescar no rio, mas só à base de Bungee Jumping ou rapel, ou simplesmente suicídio.

Começava a subida, antes tiramos a febre à temperatura ambiente e estavam 41ºc. A minha transmissão não estava a ajudar e a avozinha não queria entrar, só entrava a tia avó. Quando a inclinação era grande (zonas com 18% e 24%) aliada ao piso irregular a corrente caía da 1º para a 2º dificultando ainda mais a minha progressão em cima da bike.

O som das pingas do suor a cair em cima do quadro da bike ia dando o compasso subida acima. As sombras eram aproveitadas para descansar e oxigenar e fazer de conta que via a paisagem mais demoradamente, estava dura a subida… A água voltava a saber a chã em 10km. Já dava enjoos, mas não havendo outra…

Durante a subida só se falava em cerveja fresca, já estava a dar em doido ou alucinado, até já sentia o sabor da cerveja goela abaixo.

A primeira povoação a seguir à Ponte dos Franceses foi São Félix dos Galegos, (pertenceu algumas vezes a Portugal e foi D. Dinis que mandou construir o castelo) palmilhamos as ruas todas à procura de um tasco para beber a prometida cerveja ao corpo, não estava fácil já todos dormiam a siesta.  Encontrámos um com esplanada que começava a arrumar as cadeiras, não arrumou todas e sentamo-nos a cantar (com sotaque portanhol) “caminhando pela canha eu te vi”. As cañas estavam a estalar e saborosas, o Rocha mal pegou no copo o guarda redes nem teve hipótese. Ah!!!! O que um copo de cerveja consegue fazer… enche a alma, mas dá cabo das pernas. Snif!!! Snif!!!


Deixamos São Félix dos Galegos com água fresca nos bidões, com o corpo exterior refrescado e o interior ainda a mastigar a cerveja. A ver vamos até onde vai dar este entusiasmo…

O track entrava numa zona bem divertida com STs e trilhos mais desafiantes, os estradões tórridos entre aldeias tb lá estavam. Não encontramos mais nenhum motivo para cantar a musica “caminhando pela canha eu te vi” não se via vivalma nem cerveja. O chá voltava ao palato e já não apetecia comer nada que levava. A pele parecia que estava a levar um escaldão dos diabos, embora tivesse colocado umas doses extra de protetor solar.

Já dizia para mim mesmo não vou à Calçada de Alpajares e Penedo do Durão, estou a ficar todo F#$%& prefiro ficar em Barca D´Alva na cerveja, aprendi esta técnica com o Rocha. Depois de interiorizar a minha ideia aviso os meus companheiros de insolação.

Antes da chegada a Fregeneda aparece mais um rabo de cabra para esfolar, uma curta subida técnica onde descarreguei a minha última vontade de fazer mais subidas neste dia. Saí esgotado e com mais uma dor na boca do estômago. Na tentativa de subir uma pedra, esta escorrega e eu bato com o peito no avanço, era o sinal que o que eu queria era uma esplanada.

Fregeneda, mais uma refrescadela de corpo e deitar o chá fora. Agora voltava a ter água fresca no bidão durante mais meia hora.

Com o Rio Douro na retina Barca D´Alva devia estar a aproximar-se, o calor esse estava a aumentar, mesmo na descida não baixava um grau.

Uma vista fantástica com o sol a pintar o Rio Douro em cor prata, a ponte em Barca D´Alva já se avistava, voltava o ânimo da cerveja fresca. Esta zona em descida foi a mais quente que o meu corpo sentiu no dia, havia bocados do trilho em que era difícil respirar de tão abafado que estava.

Usávamos o caminho de ferro desativado para transformar as bikes em comboios individuais, chegávamos à estação de Barca D´Alva e os carros estavam a cem metros.

Refrescamo-nos no Rio Douro com uma bela sensação de frescura, a primeira do dia, depois usamos o rio como banheira gigante e tomamos banho.

Uns finitos em Barca D´Alva, subir ao Penedo do Durão (brutal a paisagem lá de cima) e depois jantar em Freixo de Espada à Cinta, que bem que soube e sabe depois de uma tareia conviver e degustar. Quando chegamos a Famalicão continuamos a conviver à volta de uma bela de 1,5L.

Que belo e grande dia… 93km e 2200+, 7h em movimento de bike