O dia não se ia esperar outra coisa além de chuva e chuva.
Os únicos BTTistas que mantiveram a pedalada em espirito natalício foram Rocha,
Pedro Faria e PedroS que ainda sabem nadar e a pele é impermeável, a bike é de
ferro e não se dissolve.
O Rocha tinha arranjado uma elétrica para outro kedas, mas
nem isso os demoveu de sair da cama. Fui eu montado na elétrica.
Neste dia costumámos sair do concelho e rumar para outras
paragens, mas como o tempo estava fraco e a adesão foi curta andamos no nosso
quintal e fomos até ao Sameiro.
Saímos em formato domingueira, subimos para o monte pela
encosta de São Martinho, Sete Caminhos e Pedreiras. Muitas charcas e as
descidas com as contínuas chuvas iam mudando o piso e escavando mais o terreno
com muitos regos cheios de água, nem conseguíamos ver a profundidade do mesmo.
Todos os trilhos eram novidade.
Chegamos ao Sameiro demos a volta para não arrefecer e
continuar a partir pedra nas subidas e nas descidas, nem dava vontade de comer,
guardávamos para o jantar de Natal.
Com o piso sempre duro ainda apontamos para o Penedo das
Letras, mas a curta bateria da bike que estava montado mandou-me pedalar
sozinho, viramos a cabeça ao prego e acartei os 25kg até casa. Acabamos com
59km com 1600+
À noite no jantar, já estava mais composto e já se viam mais
indivíduos com cara de fome, Carlos Pereira, Tó, Mendes, Locas, Rocha, Pedro
Faria, PedroS e Joel. O Jantar foi na Adega Regional Santa Filomena.
A conversa rodou à volta da loucura e das alucinações de
cada um, e claro com as promessas que um dia andarão outra vez de triciclo. O
que interessa é que nos continuemos a ver e aturar.
Um percurso na terra fria trilhado pela raia fronteiriça.
Arraiamos local na aldeia de Gestosa de Lomba onde ficamos hospedados. Para
fazer as refeições não havia nada, tínhamos de fazer 10km para jantar numa
aldeia vizinha, Vilar da Lomba. Nesta zona as aldeias acabavam todas em Lomba.
Dia 1 de dezembro, sexta-feira
Rocha, Pedro Faria, PedroS e Miguel Martins chegavam na
sexta-feira com jantar marcado no café “Já Está” em Vilar da Lomba, onde fomos
muito bem servidos. Depois lá fomos para a primeira aventura do fim de semana,
descobrir qual a casa onde iriamos ficar, a nossa cicerone não atendia o
telemóvel. Só sabíamos que a lareira estava acesa à nossa chegada e a chave
estava na porta. Tudo bem que a aldeia era pequena, mas não queríamos levar no
corpo se não acertássemos na casa ou sermos atacados por algum canídeo a
proteger a sua propriedade.
Lá andávamos nós a espreitar as casas com uma chave na porta
e com a lareira acesa, foi um misto de caça ao tesouro e um nervoso miudinho do
que nos podia esperar, o que nos podia acontecer depois de meter a mão na
maçaneta da porta, este simples jogo demorou uns 45 minutos a 1 hora com um
frio de partir as orelhas.
Quando acertamos na casa a temperatura mudou para melhor, só
o crepitar da lareira já deixava conforto. Levamos uns “cobertores extras” para
passar a noite.
No rés-do-chão estava-se mesmo bem, mas no piso 1 e
principalmente no piso 2 que eram umas águas furtadas a humidade escorria nas
paredes e os cobertores pareciam que estavam orvalhados. Ia ser uma bela
noiteeee.
Dia 2 de dezembro, sábado
Acordamos cedo para ver o que os trilhos nos iam
proporcionar, 8:30h já pedalávamos para aquecer e as sombras atiravam o
mercúrio do termómetro ainda mais para baixo. Alguns vales ainda dormiam
cobertos de nevoeiro à espera que o sol lhes desse os bons dias.
Os trilhos inverneiros em algumas zonas tornavam-se mais
lentos nos lameiros por onde passávamos.
Os primeiros 15km eram um sobe e desce por trilhos e
estradões passando por algumas aldeias “Lombas”.
Quando chegamos à aldeia de Pinheiro Novo a morfologia do
terreno mudava bastante, era um misto de navegação à vista e olhar para o GPS
pois não se via marcações no chão, não era uma zona muito usada o que me
agradou bastante, natureza em estado puro, e claro mais duro até chegarmos aos
marcos fronteiriços e ao Penedo Pé de Meda. A dureza aumentava com muita pedra
solta até trepar aos 1150m a partir dos 850m tudo muito duro, mas de uma beleza
tal.
Onde havia um trilho a vegetação abraçava-se dando as mãos
dificultando ainda mais a nossa passagem. Foram 10km muito bons, puro btt em
natureza virgem.
Depois de passarmos mais um grande lameiro totalmente
encharcado, e andar a escolher os tufos de terreno ou vegetação mais alta para
colocar os pés, porque era impossível pedalar, voltamos às descidas forradas a
pedras soltas a testar as suspensões e pneus e ver quanto tempo aguentavam o
stresse do material. A fava saiu ao pneu traseiro da bike do Miguel, um rasgo
que obrigou a colocar uma camara de ar.
Continuamos a descer em direção ao Rio Assureira, e a
inclinação cada vez mais acentuada quanto mais perto do rio estávamos. Quando
chegamos à margem, uma grande surpresa. Era demasiada água e esta passava por
cima da represa com uma corrente forte. Analisámos por onde podíamos atravessar
numa zona mais estreita e não havia solução à vista. O Miguel ainda tentou ver
se conseguíamos passar por cima da represa, mas não trazíamos escafandro nem
barbatanas. Abandonamos a ideia e teríamos de subir tudo até encontramos uma
solução para continuar no trilho.
O Miguel experimentava um GPS novo, o Faria pergunta se o
GPS não é dos espertos que tenta encontrar uma ligação mais rápida em vez de
ter de subir tudo. Por sorte a subida foi curtinha e o GPS encontrou uma ponte,
o que foi um grande alivio para as pernas e as baterias.
De volta ao track a subir, já que estávamos num buraco, 6km
com 400m+, o sol esteve fraco e andou deitado o dia todo, estava na hora de
acelerar que os dias eram muito curtos, e os últimos 10km foram feitos em boa
média.
Acabamos com 61km e 2000+
Era chegar a casa, tomar banho e ir fazer os 10km para
jantar. Aqui jantam cedo muito cedo, e o anho já devia estar no forno.
Dia 3 de dezembro, domingo
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Depois de uma noite bem mal dormida vá-se saber bem porquê,
tomamos um bom pequeno almoço para voltar à lida do btt.
6km de aquecimento lento, em banho maria, o apetite ainda
nem sequer tinha aquecido e já estávamos a descer em direção ao Rio Mente amarrados
aos travões para que o vento/frio não nos rache a meio. Quando nos deparamos
com montes de árvores arrancadas pela raiz e outras partidas a meio, andávamos
a fazer salto às arvores com a bike às costas, qual frio qual quê…
Voltávamos a apanhar marcos fronteiriços, tudo corria bem
até a suspensão da bike do Miguel passar de 100mm para 0mm, ficou sem ar. Uma
pura XCO e uma dor de costas de andar tão vergado, nas descidas foi duro, mas
lá conseguia andar, que remédio… foi o fim de semana azarado dele.
Mais uma descida onde as giestas estão a tomar conta do
trilho e as pedras não nos deixam decidir qual a melhor trajetória a seguir. Eu
e o Rocha íamos comentando o tempo que o Miguel devia fazer a descida sem ar na
suspensão… ia ser uma bela descidaaaaa.
Quando a descida terminou mais um problema, mais um rio e um
campo demasiado fofo para andar a procurar uma travessia. Estava à nossa frente
uma ponte de elevado grau técnico e engenharia, o medo é que esta não
aguentasse o nosso peso com a bike às costas. Depois de um rápido teste à
resistência foi fácil para as bikes analógicas, as de “combustão” já deram mais
trabalho.
Com 35km feitos, numa zona rápida de descompressão muscular
apareceu um rabo de uma cabra para escalar, com ela à mão ca P#$% de subida,
aproveitei para aquecer os pés 😏.
Mais uns marcos fronteiriços pró saco e pedalávamos em
Espanha, apanhamos uma cascata (Catarata Cidadella) onde ganhamos tempo a
contemplar a cascata de diversos ângulos e alturas. Seguimos por estrada ao
longo do parque Cidadella com diversos moinhos de água e alguns trilhos. Uma
zona muito bonita recheada de cantares de água por todo lado.
Voltávamos a entrar em Portugal com uma descida muito rápida
a cheirar a casa tal a rapidez que nos afundava monte abaixo, depois foi subir
penosamente até chegar a casa sem antes passar pela aldeia de Passos de Lomba.