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1º dia Pereira Barcelos – À Guarda Espanha 95Km
Mendes, Zé, Carlos (KTM), Fernando, Amorim,
Pedro, Américo, Ricardo, Tendências e Carlos (Sobrinho), no fim do dia aparecia
o Carlos (o irmão levava-o ao albergue). Foram estes os peregrinos de bike que
saíram de Pereira, às 8.00h pusemo-nos a caminho.
O nosso
transportador de fogão (vulgo recipiente em barro para assar chouriças em água
ardente) o Sr Tendências, com os seus saltinhos rebentou o saco de plástico que
transportava o fogão, e partiu os suportes que impedia a chouriça de
entrar em contacto com a água ardente, mas não íamos ficar mal, são coisas que
se resolvem.
Chegada a Fão, chegam os dropouts do Tendências e as famosas clarinhas de Fão. Aí enchemos o nosso mealheiro Zé, de dinheiro. Agora era o homem mais importante do grupo, andava sempre com guarda Pretoriana.
Passamos
pela Malafaia e daí apareceu uma música que fomos cantando durante os três
dias:
Eu vou à Malafaia
A Malafaia é vossa amiga
“agora em Inglês”
I go to Malafaia
Malafaia is your best friend
Paramos num parque para lanchar e toca a tirar as
três garrafas de vinho frescas que levávamos, pão, chouriça, panados e o nosso
fogão partido com a água ardente. Começamos a fazer o incêndio com a água
ardente para assar as chouriças e foi petiscar, limpar e bazar que começava a
chover. Azar, de mochila às costas e a chover bem.
Os ânimos
começam a fraquejar, para ajudar à história quando estávamos em Afife, o cepo
da minha bike bloqueia, agora parecia um triciclo, só não devia dar pedal para
trás para não dar cabo do desviador e da corrente.
Andámos um pouco até uma povoação para pedir ajuda/informação e aconselharam-nos uma oficina de motos, e siga para lá com os pés na suspensão e a ser rebocado/empurrado pela resto da comandita.
Chegando à oficina de João Fernandes em Afife, logo se prontificaram a ajudar. Desmontaram o cepo à martelada (pois não tinham alguma ferramenta que era necessária), e este cai em peças no chão, perdendo um linguete que teimava em não aparecer. Tiveram de inventar, desmontaram um cortador de relva, tiraram o cepo, desmontaram o cepo e tiraram um linguete… será que dá? Parece-me maior… salta linguete para o esmeril , dasse ,… será que dá!!! Parece que sim tudo montado, rola, faz barulhinho, já estou feliz outra vez.
Quanto
é? (pergunto eu ao patrão) – “vão mas é embora que já estou cheio de vos
aturar” . Excelente pessoa, tivemos lá uma hora e meia a mudar de roupa,
comer umas barritas e fugir da chuva enquanto o trabalho deles estava parado.
O
nosso/meu muito obrigado ao Sr João Fernandes.
De volta à
perseguição das setas amarelas, cheios de fome e já com a chuva para trás,
o almoço ficou-se por umas barritas. O Tendências começa a enlouquecer por
comida, só que… no monte não há muitos tascos ou cafés.
Ao
chegar a Vila Praia de Ancora, D. Tendências fica louco e diz que não anda mais
sem comer, mas já tínhamos perguntado lá na Vila onde se podia tascar, era no
Monte do Calvário.
Monte = a
subir, mas D. Tendências não andava mais nem percebia o que lhe diziam, “lá em
cima há comida é só subir e comer” D.T. – “eu não ando mais sem
comer”. Depois de diversos desenhos e caras feias lá fomos subindo,
subindo, subindo, uma pendente tipo parede, e lá em cima de onde se via o mar,
que lindo e bonito (outra frase que ficou sempre que víamos algo
transcendente).
Paramos no
tasco, e fizemos logo uma feirinha com as sapatilhas, camisolas, meias e
mochilas ao sol penduradas onde desse, até no passeio. Estávamos à
vontade e íamos comer, só que havia um pequeno problema, a cozinheira não
estava, tinha ido ao talho.
Toca a comer tudo o que o Sr tinha em pacote até chegar as bifanas e pregos, agora toca a olhar sempre para o relógio para ver se conseguíamos apanhar o ferryboat para o lado espanhol.
Chegamos ao porto e já víamos o ferryboat, já nos safamos. Por cinco minutos ficávamos a falar Português o que implicava dormir em Caminha e no Sábado ter que pedalar bem e rápido.
Chegamos ao porto e já víamos o ferryboat, já nos safamos. Por cinco minutos ficávamos a falar Português o que implicava dormir em Caminha e no Sábado ter que pedalar bem e rápido.
Chegados a
Espanha, procurar as setas amarelas foi um desatino, havia no mesmo poste setas
nos dois sentidos. Foi a zona mais complicada de seguir, até termos de seguir
pela estrada nacional até ao albergue de Á Guarda já que o sol já se estava a
deitar.
Depois de um
banho bem quente e vestir a farpela da noite (todos iguais para não nos
perdermos e de fácil visualização) já com o Carlos no grupo mais as três
botelhas e chouriças que ele trouxe, para a manhã seguinte repetir a dose. Lá
fomos jantar à Ester, a comida não era grande coisa mas os chopitos eram
bastantes e bons.
Agora vinha
a parte mais difícil para mim, dormir. Tenho um ouvido de tísico e claridade
nenhuma. Como tínhamos uma ala só para o nosso grupo, houve tempo para fazer um
arraial de riso com as baboseiras.
Andava
lá um (Tendências) a fazer de ET mas com a luz não no dedo mas…, estava tal
algazarra que outro (Amorim) já estava a dormir (ressonar) até aparecer um
gato no telemóvel. Levanta-se de gás para atirar o sapato ao gato e acorda…
momento único.
Como
estávamos em festa, os vizinhos do edifício ao lado também estavam,
tocaram uma musica de técno (sim, sempre a mesma) até às 4.30h da manhã,
no fim saíram e ficaram na faladura mais uma hora. Mesmo assim, só eu, o
Ricardo e o Sobrinho é que estávamos acordados.
O Carlos KTM
andava a fazer chá durante a noite ou a descombrar. O Mendes também sabe
usar uma descombradora, bem como o Tendências. Devo ter dormido uma hora.
2º dia Á Guarda – Briallos Portas 117km
Alvorada às 7.00h, desejar um bom caminho a um peregrino
que vinha a pé desde Esposende e a promessa se nos encontrássemos pelo caminho
tiraríamos uma foto. Ensacar tudo outra vez, pôr protector solar (não vá
chover e também protege do vento) e saltar para cima da bike para encontrar o
café aberto e tomar o pequeno-almoço.
De volta à procura das setas amarelas, continuando pela costa em zig-zag, encostados ao mar, atravessar a estrada, ir para o monte/pinhal num sobe e desce constante, repetitivo, duro, pouco usado e calcado, mas lindo e belo, encontramos o peregrino de Esposende. Tiramos umas fotos e continuamos no nosso zig-zag, voltamos a encontrar o peregrino, ele em linha recta estava a andar tanto como nós de bike (o peregrino ia só pela estrada).
Estava na hora do ritual das manhãs, comprar pão e ir
para praia fazer um incêndio com a famosa água ardente, chouriças e vinho
fresco (do nosso), apanhar um solzinho e apreciar a paisagem. Como as chouriças
acabaram o nosso fogão foi entregue aos espanhóis e partimos para ver se o
peregrino não nos apanhava mas… ele devia andar a correr porque passámos outra
vez por ele.
E lá continuamos com o nosso zig-zag até o meu cepo dizer que estava igual , com em Afife. Voltou a bloquear, que vou eu fazer agora tão longe de tudo… vou ligar para casa para me virem buscar, mas os companheiros de viagem dizem que não, “estamos onze e chegamos onze a S. Tiago”. Lindo.
Paramos num restaurante e perguntamos onde poderíamos encontrar uma oficina de motos ou bikes, dizem eles, “só em Baiona, 6/7 km”, toca a pedalar o mais rápido possível até Baiona, estavam a ser horas de almoçar e da parte de tarde estariam fechados. Eu com a companhia do Amorim, Tendências e o Sobrinho de prego a fundo lá fomos tentar chegar antes da hora de almoço e encontrar a oficina, mas quase ninguém conhecia ou diziam que estava fechada ao sábado.
Reagrupamos e fizemos uma busca maior, mas já nos estavam
a mandar para fora de Baiona, e começava a não acreditar que me ia safar. Mas a
uns 3km de Baiona (Ramallosa) encontramos uma loja de bikes com oficina,
entramos para ver se podiam fazer alguma coisa ou se tinham um cepo igual.
Cepo igual não tinham e o mecânico não estava, mas
o dono sossegou-me e disse para irmos almoçar por trás da loja deles no
restaurante Antipodas que ele ia tentar resolver e que me chamava quando
soubesse de alguma coisa, já tinha telefonado ao mecânico dele e vinha a
caminho.
Fomos para o restaurante com esplanada e lá fizemos a
nossa feirinha, desmontamos tudo e ainda deu para fazer praia no passeio. O sol
a entrar nos ossos e claro a cerveja a entrar no esófago, vinda directamente da
janela do restaurante onde pusemos o dono sempre à janela e amarrado aos punhos
da máquina da cerveja (estava cá um calorzinho chamativo). Começam as
terrinas de comida a chegar e a desaparecer antes de pousar na mesa (estávamos
todos de dieta), os senhores não davam vazão.
Chega o dono da loja das bikes e diz-me “acho que
conseguimos resolver o problema”. Quando chego lá o mecânico diz “a mola que
segurava os linguetes partiu e eu coloquei um arame”, ao que eu pergunto:
e isso resulta até Santiago de Compostela?
Resposta: ainda é longe se não esforçares muito é
capaz de dar.
Estou lixado… não tinham cepo igual, alternativa era
comprar uma roda. Vou como está, vou testar a bike e ouço o estalinho que me
diz que não está lá muito bem, digo ao mecânico para dar uma volta e este
diz-me, se não esforçares muito dá.
Pronto, é nesta altura que nos lembramos dos santos,
vamos lá, toca a preparar para arrancar e quem avistamos a chegar ao
restaurante? O peregrino de Esposende, sessenta e tal anos e a dar-nos uma coça
das antigas. Mais uma foto de grupo com o Sr para ele dizer aos amigos que nos
passou, só três vezes, ele a pé e onze maganos de bike.
Quando pegamos nas bikes o KTM furou, desmonta o pneu e
tira um conjunto de remendos amarrados a uma câmara de ar (via-se mais remendos
do que câmara de ar, INCRIVEL).
Com aquela cervejinha toda e com o papo cheio lá nos
pusemos a caminho. Agora nas subidas tinha que ir com ela (bike) à mão, a
correr ou em passo muito ligeiro para os acompanhar. Tudo o que era subida ou
que carregasse muito nos pedais tinha desmontar e acompanhar.
Se continuasse-mos pelas setas a bike não ia aguentar
(nem eu), já começava a ir a baixo psicologicamente, por os estar a empatar mas
também já via alguns mamados.
Viramos para a nacional (porque falhámos umas setas a
descer) e siga até Vigo. A bike em alcatrão porta-se bem, faço mais ritmo de
pernas e ela vai sossegada.
O pessoal nesta fase ia todo mais calado. O Fernando
desde que arrancamos começou a sentir-se mal, com dores de barriga. Até Vigo e
passar a cidade foi das piores partes da nossa viagem. Quando passamos pela
estação de caminhos de ferro, pensei logo tirar o bilhete para Famalicão mas
dissuadiram-me a não o fazer e siga, mais nada. Lindo.
Já outra vez no encalço das setas amarelas e das vieiras
seguimos na rota . Pelo nosso rendimento estávamos a pensar ir dormir a
Pontevedra, o que para o terceiro dia iam carregar mais km, ia ser bonito.
Ao meio da tarde o pessoal já estava mais animado, até um
cromo se meter com uma espanhola que se estava a cruzar connosco “olá, fazes
parar o transito” (transito éramos nós) a espanhola pára, e nós todos a passar,
“AZEITEIRO”.
O Zé agora só queria ir à frente, estava com o turbo todo ligado. Até a subir metia os cães todos e quem quisesse que o seguisse. Estava possesso e ao ritmo que íamos chegamos a Pontevedra mais cedo que o esperado, por isso fomos para o próximo albergue em Briallos Portas.
Chegada ao albergue, (numa povoação onde não havia praticamente nada) perguntamos a quem nos veio abrir a porta onde poderíamos jantar.
Resposta: Há um restaurante muito bom a quatro km daqui, vocês tomam banho rápido e eu levo-vos lá.
Quando nos pusemos com a farpela da noite, (todos vestidos iguais) o nosso cicerone já tinha marcado mesa para onze e um jipe da protecção Civil para nos transportamos para o restaurante, dois carros de cinco lugares fomos treze, o Américo foi na mala e chegou com as tripas à mostra.
Quando nos pusemos com a farpela da noite, (todos vestidos iguais) o nosso cicerone já tinha marcado mesa para onze e um jipe da protecção Civil para nos transportamos para o restaurante, dois carros de cinco lugares fomos treze, o Américo foi na mala e chegou com as tripas à mostra.
No restaurante pedimos churrasco para todos, lá comia-se
uma espécie de frango de churrasco fumado, mais umas carnes. Foi a melhor
refeição da viagem.
No fim toca a ligar para as nossas boleias para nos virem
buscar, e como iam demorar algum tempo, os que não gostam de chupitos ficaram à
espera da boleia e os que gostam de chupitos esvaziaram garrafa e meia, (Pedro,
Amorim e Tendências) eu já estava a dobrar a dose de calmante do dia anterior
para ver se conseguia ressonar como os outros, por isso toca a beber mais um
chupito (chupito = água ardente, mel e café) até as nossas boleias chegarem.
Agora ninguém queria ir atrás e lá nos acomodamos todos nos bancos traseiros.
Chegado ao albergue toca a preparar para dormir, hoje
como estavamos todos cansados não houve farra. Toca a tentar dormir, deixa-me
ver se consigo adormecer primeiro que estes gajos, senão a sinfonia não me vai
deixar adormecer.
Dito e feito começa a fanfarra, até ressonar
metálico havia, como os beliches eram em ferro e a boca devia estar perto dele,
dava um efeito sonoro de uma rebarbadora a cortar ferro. É de um gajo ficar
doido, às cinco horas ainda estava acordado.
Realmente, para mim a parte mais difícil é não conseguir
dormir.
3º dia Briallos Portas – Santiago Compostela
50km
Alvorada às 7.00h (logo agora que estava a dormir bem),
arrumar tudo dentro dos sacos, mochila à costa, saltar para cima da bike, e
constatar que está bem frio. Pedalar sete km até à povoação mais perto para
tomar o pequeno almoço e aquecer com alguma bebida quente.
Continuando no encalço das setas amarelas e das vieiras,
já bem dispostos e satisfeitos com o pequeno almoço, o Fernando era o único que
ia em baixo, ainda lhe doía o estômago e quase não comeu nada.
Chegada a uma zona bem conhecida de outros anos numa
descida algo técnica, por haver muito areão, o Amorim vai ao tapete, mas sem
consequências, só se sujou e raspou a pele.
Agora a comida até Santiago era à base de barras, já
estávamos a ficar enjoados de tantas barras comer.
A uns dez km de Santiago o nosso comboio começa a ficar
mais disperso e estamos sempre a agrupar, até aparecer uns ST a descer para
animar o pessoal.
Chegados a Santiago e à Catedral, deixamos as bikes encostadas umas às outras e fomos visitar a Catedral por dentro.
No fim fomos levantar o nosso certificado de peregrino.
As nossas boleias Berto e Ricardo já tinham chegado .
Carregamos as bikes na carrinha e siga comer comida
portuguesa em Valença, mas quando chegamos lá o restaurante a que estávamos
habituados estava fechado por motivos pessoais, agora já estávamos a desfalecer
não queríamos ir a outro e levar barrete.
Fomos a Ponte de Lima comer sarrabulho num conhecido e…
levamos barrete. Só quando chegamos a casa é que comemos em condições.
O meu muito obrigado aos meus companheiros de viagem que
me ajudaram com os problemas que tive na minha bike.
“BOM CAMINHO, AMIGO”
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